A frase lembra o que se diz sobre o vinho. Estamos pensando em seres humanos, apesar de abominarmos a palavra “velho”. Uma vez, o arquiteto Oscar Niemeyer, às vésperas dos 100 anos, disse-nos que “a velhice é uma droga”. Na mesma época, Fidel Castro fez o seu depoimento: “Nenhum perigo é maior do que os relacionados com a idade e uma saúde da qual abusei, no tempo que me correspondeu viver.”
Na televisão carioca, apareceu um grupo de 1.500 voluntários para trabalhar no Pan. O mais velho deles era um senhor de postura atlética, ex-remador, 87 anos, que se disse fascinado pelo trabalho: “ Depois da minha mulher, o que eu mais gosto no mundo é de esportes.”
São visões distintas, que não escondem uma verdade: a nossa vida pode ser prolongada até limites impensáveis se cuidarmos sempre da saúde. Evitar o diabetes, o fumo, comidas pouco saudáveis, a bebida excessiva, etc. O professor Cândido Mendes contou, na Academia Brasileira de Letras, que o jornal japonês Asahi Shimbun publicou no obituário de um certo dia que haviam morrido dez pessoas: sete com mais de 100 anos; uma com 100 anos; outras duas de 78 anos em acidentes de carro. Só faltou dizer que, com vida regrada, só morrem os que querem. A verdade não é bem essa, temos que considerar as doenças incontornáveis, mas o comentário serve para reflexão. Inclusive sobre os poderes dos médicos e suas máquinas quase mágicas, que podem fazer sobreviver uma pessoa por muitos meses, a um custo altíssimo, com vida vegetativa. Mas essa é outra discussão, que envolve os conceitos de eutanásia e “viver com prazer”.
Citemos o II Fórum da Longevidade, promovido no Rio pelo presidente do Bradesco Vida e Previdência, Luís Carlos Trabuco Cappi. Ele próprio fez algumas observações, na abertura, que nos permitem pensar no fenômeno da vida longa:
“Em 1950, segundo a ONU, a expectativa de vida girava em torno de 51 anos de idade para os brasileiros. Cinqüenta anos depois, essa idade subiu para 67. Até 2025, o Brasil será o sexto país do mundo em número de idosos... Com a descoberta do primeiro gene associado à longevidade, tudo está muito próximo de nós e o fenômeno é irreversível.”
No Fórum foi feita por especialistas a proposta de ações para que os idosos possam viver mais e melhor, com a valorização da saúde física e mental, espiritual e renda. Assim, o bem-estar desejável estaria condicionado a uma série de fatores, como o respeito, a cidadania e o adequado convívio com os mais jovens. A isso chamamos de boa qualidade de vida.
Na atualidade, pode-se assinalar o envelhecimento dos alunos universitários. Hoje, é comum encontrar pessoas de mais idade freqüentando cursos superiores, não só em busca do tempo perdido (se se pode falar assim) ou de novas oportunidades de emprego, que não demandam força física, mas sabedoria. Dia virá em que repetiremos a lição de vida do profeta Moisés: apesar de todas as suas vicissitudes, alcançou os 120 anos de idade. E de forma gloriosa.
Jornal do Commercio (RJ) 15/6/2007