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Qualificação profissional, a prioridade

 

Outro dia, numa aula de história da educação, o aluno fez ironia com seu professor: “Mestre, é verdade que hoje quem não se qualifica se trumbica?” O riso foi geral. A lembrança do famoso pensamento de Chacrinha pareceu oportuna, quando se discutia em classe a importância da profissionalização, que passou a ser uma das prioridades da educação nacional.

Ao falar na Confederação Nacional do Comércio, o estudioso Gilberto Paim analisou “Os desafios do comércio com a China”. Concluiu que estamos num processo de defasagem, pois os chineses avançam de forma constante, lastreados em ações internacionais ousadas e, principalmente, num quadro de recursos humanos dinâmico e atualizado. Não é à toa que milhares de chineses, anualmente, deixam o país para se formar em nações desenvolvidas, recolhendo o que de melhor existe em conhecimento científico, tecnológico e inovação.

É certo que o Brasil acordou para essa realidade, com as medidas que estão sendo tomadas pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, para facilitar o aperfeiçoamento de 75 mil jovens brasileiros em centros mais avançados. É o programa “Ciência sem fronteiras”. Isso já deveria ter sido feito há muito mais tempo.

Quando se visita uma universidade estrangeira, como fizemos recentemente na cidade do Porto e na capital da Suécia, é comum encontrar dezenas de brasileiros cursando graduação, mestrados e doutorados nessas instituições, como sabemos que ocorre em tantas outras de renome. Existe até o caso singular dos cursos de física, em nosso país, que formam poucos profissionais — e sem perspectiva animadora de emprego. O resultado é que esses alunos abandonam os cursos superiores feitos no Brasil e seguem para o exterior, especialmente os Estados Unidos, para completar a sua graduação, e seguir em busca de uma boa oportunidade de trabalho. Aliás, um desses cientistas esclareceu que “o problema, aqui, não é só a falta de emprego especializado, mas também as condições precárias do estudo universitário, que se faz em laboratórios desprovidos da necessária modernidade.”

Não é de hoje que isso acontece. Pode ser lembrado o caso sintomático do físico Sérgio Porto, de renome internacional, que acabou fixando residência nos Estados Unidos, onde brilhou intensamente.

O crescimento do nosso mercado de trabalho é progressivo. Em 2010, por exemplo, foram criados 2,5 milhões de postos de trabalho formais, o que representa elevação de 7,7% em relação ao ano anterior. Mesmo que em 2011 haja uma pequena redução, é preciso realizar um grande esforço, nos vários setores da economia, para garantir a sustentabilidade do nosso desenvolvimento. Estamos vivendo a hora e a vez da qualificação profissional, o que levou a presidente Dilma Rousseff a criar o Pronatec, de perspectivas bastante animadoras.

Vamos analisar o caso da construção civil, setor que registra um boom admirável, especialmente nos grandes centros urbanos do país. O problema não é o baixo salário, mas sim a falta de mão de obra qualificada, para que a velocidade da expansão não sofra solução de continuidade. No ano passado, foram criadas mais de 1,6 milhão de vagas e o problema foi sentido.

Começa a existir grande mobilização para sanar essa deficiência. Além do MEC (ouvimos pessoalmente essa preocupação do ministro Fernando Haddad), entidades privadas e escolas profissionais fazem parte desse mutirão, aqui se inserindo o Senai e o Sesi (setor secundário), o Senac e o Sesc (setor terciário) e uma agradável surpresa, de grande relevo, que é a participação do Centro de Integração Empresa-Escola (Ciee), entidade filantrópica, que já treinou mais de 11 milhões de jovens brasileiros, nos seus 47 anos de providencial existência.

Correio Braziliense, 11/8/2011