Ao falar para cem alunos do Centro de Estudos de Pessoal (CEP) do Exército, no Forte Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, sentimos que o desejo de uma educação de qualidade é rigorosamente generalizado. Na fase de debates, perguntas alusivas ao tema surgiram de forma espontânea, ao lado de outras questões, como a que se refere à privatização do ensino superior. No futuro, ele deverá ser público ou particular?
Nossa resposta partiu das origens do ensino superior brasileiro, calcado no bacharelismo herdado de Portugal. Hoje, temos 75% do efetivo do ensino de terceiro grau na iniciativa privada.
O ensino público é minoritário e com tendência a perder cada vez mais substância, como se pode verificar pelo grande número de greves explodindo aqui e ali, sem qualquer perspectiva de solução. Mas não seria boa idéia privatizar o ensino superior, totalmente, pois defender essa tese seria reconhecer que os estudantes menos aquinhoados, do ponto de vista social, teriam que enfrentar a comercialização desenfreada, para o que não estariam preparados.
Veio à baila, na palestra sobre a educação brasileira, o atual estágio dos colégios militares em nosso país. Tema que interessou particularmente o comandante do CEP, coronel Álvaro Ferreira Lima, foi debatido com muito interesse pela platéia. Lembramos a amizade que nos uniu ao general Leônidas Pires Gonçalves, com quem nós conversamos muito a respeito de uma hipotética redução do número de escolas militares no Brasil. Não apenas fomos contrários a isso, como defendemos o aperfeiçoamento do seu projeto pedagógico, para assegurar a qualidade que já foi uma característica do Colégio Militar.
Hoje, compulsando o ranking do Enem, pode-se verificar que houve uma perda de posição — e as causas são variadas. Falta de recursos financeiros talvez seja a principal delas.
A discussão se estendeu para as agruras vividas pelo ensino médio. Não há dúvida de que se trata de uma tragédia pedagógica, agravada pela sucessão absurda de portarias oficiais, tentando regular a matéria. Há um número excessivo de matérias (13) e nenhum esforço inteligente do ponto de vista curricular.
Experiências internacionais (foram citados os modelos da Finlândia, da Suécia, do Japão e da Coréia do Sul) demonstram que hoje não se pode mais manter a educação média no plano que era novidade, no século passado. A modernidade pede aulas menos unidirecionais e a formatação de grupos de trabalho para o ensino compartilhado. Será que é tão difícil entender isso?
Ainda sobrou tempo para condenar a excessiva politização das escolas públicas, em detrimento dos valores pedagógicos. E para reclamar a ausência de bibliotecas públicas, sacrificando os anseios de 15 milhões de estudantes de todo o país. Existe uma lei federal que procura corrigir essa omissão, mas os seus efeitos até aqui têm sido rigorosamente nulos.