Ainda está meio confuso, mas parece que os Estados Unidos, em sua aliança com Israel, dobraram-se aos argumentos de Ariel Sharon e aprovaram a caçada aos líderes palestinos, quase todos englobados como terroristas. Nem Arafat escapará dessa limpeza de terreno, que não ficará mais limpo pelo fato de fulano ou sicrano terem sido eliminados.
Li, não sei onde, em Maquiavel ou em Paulo Coelho, que não se deve odiar o inimigo, mas combatê-lo e vencê-lo. Uma guerra, seja qual for, é o confronto de duas vontades antagônicas. Descamba para o banditismo quando se limita ao confronto de duas personalidades. Sharon odeia Arafat (tem motivos para isso), e Arafat odeia Sharon, com iguais motivos.
Seria cômodo e saudável para o Oriente Médio e para o mundo em geral se colocássemos os dois frente a frente, com um pau ou uma arma, sem juiz nem cronômetro, e que os dois resolvessem a questão entre si, como dois gladiadores ou como dois lutadores de sumô. Aqui para nós, seria divertido. Ao vencedor, seriam dadas as batatas de praxe.
O mesmo se poderia fazer com Bush e Saddam Hussein e, num plano menos dramático, com o casal Garotinho e o governo federal. Ganharíamos tempo e espaço para discutir outros problemas e encontrar soluções que nos faltam. Ora, dirão, atrás de cada um deles há uma causa, um ponto de vista, uma pinimba geralmente histórica, que transcende aos indivíduos. Causas que não acabarão porque fulano destruiu sicrano.
Se minha voz fosse ouvida no concerto dos povos, seria promovido um evento monumental, no Maracanã ou no Madison Square Garden, e teríamos as principais duplas em litígio frente a frente, com entradas pagas e renda revertida ao programa Fome Zero.
Folha de São Paulo (São Paulo - SP) 27/04/2004