Quem passa pela construção do novo prédio da Petrobras, em Vitória (ES), pode aquilatar o quanto deverão crescer as suas atividades, naquela região. É decorrência da extração de petróleo e gás natural, com reservas inimagináveis, como acontece com a imensa faixa de virtualidades da camada do pré-sal.
Para o educador, o pensamento logo se volta para os recursos humanos. Estamos operando com a urgência e a competência necessárias? O caso do Espírito Santo é emblemático, pois segundo dados do IBGE é o Estado que mais cresceu, no primeiro semestre de 2008, com uma taxa de 16%, superando o Paraná e Goiás, cada um com 11%. A expansão é variada, pois atinge também as indústrias metalúrgica, mecânica, de alimentos e bebidas.
Ao participar do Encontro sobre Educação de Qualidade, promovido pelo CIEE/ES, no auditório da Rede Gazeta, foi possível ouvir da empresária Maria Alice Lindenberg a certeza de que a expansão capixaba teve início na década de 70 - e será cada vez mais expressiva. Por uma razão: "No Estado, luta-se com muito carinho pela educação, que desejamos cada vez mais qualificada." Emprego, negócio e renda compõem uma trilogia que hoje se leva em muita consideração, nos objetivos permanentes do Governo.
A esperança de cidadania dos adolescentes se liga intimamente às beneméritas atividades do Centro de Integração Empresa-Escola, que existe há 27 anos no Espírito Santo e hoje distribui cerca de 10 mil bolsas mensais. Nada menos de 74% dos estagiários são contratados pelas empresas conveniadas, após o período probatório, nunca superior a dois anos.
Saindo da visão estadual para a nacional, há complicações evidentes. Temos 9 milhões de jovens brasileiros à procura de emprego, com uma particularidade que foi valorizada por Luiz Gonzaga Bertelli: desses, somente 1,8 milhões têm a devida qualificação. Não há como estranhar, pois, a chegada ao país dos primeiros engenheiros chineses e japoneses para operar nas áreas de petróleo e siderurgia. Um assunto naturalmente vergonhoso para uma nação que investe 75 bilhões de reais em educação, mas não forma os recursos humanos necessários.
É certo que há necessidade de R$ 100 bilhões de orçamento anual para a educação, mas se os recursos financeiros continuam sem chegar às salas de aula, nos mais diversos níveis, fica difícil defender a tese de mais verbas para o setor. Por isso, o educador Paulo Nathanael Pereira de Souza, no mencionado Seminário de Vitória, foi cético quando afirmou que "não há muito que comemorar quanto as nossas possibilidades futuras. Centenas de cursos superiores com notas 1 e 2, segundo dados do Enade, são uma demonstração de falência do sistema, que já revela carências desde os primeiros anos do ensino fundamental. Quantos alunos terminam a quarta série sem raciocinar direito ou mesmo escrever e calcular adequadamente?"
Já se fala numa outra reforma da educação brasileira. Nada menos de oito foram feitas desde a década de 30. Nenhuma delas foi suficiente para nos dar tranqüilidade, sobretudo porque não se chegou aos alicerces representados pela formação, atualização e remuneração de professores e especialistas.
Jornal do Commercio (RJ) 29/08/2008