No meu tempo de criança se dizia que há pessoas que “procuram sarna pra se coçar”. Depois, passou a ser dito de maneira mais criativa: “há gente que é capaz de atravessar a rua para escorregar na casca de banana no outro lado da calçada”. O presidente Jair Bolsonaro pertence a essa categoria: não resiste à tentação de criar encrencas desnecessárias. Agora mesmo foi até Israel para, ao mesmo tempo, frustrar o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu por não transferir a embaixada para Jerusalém, como prometera na campanha, e desagradar à Autoridade Palestina, por criar um controvertido escritório de representação na cidade.
Bolsonaro conseguiu também, mesmo ausente, provocar agitações contra e a favor do golpe de 64. Constava que os militares em seu entorno o tinham convencido a amenizar as “comemorações devidas”, argumentando que elas eram, digamos, indevidas. O fato, porém, é que o Planalto lançou no dia 31 um vídeo provocativo exaltando a ditadura. O vice Mourão garante que “a decisão foi do presidente”.
Aliás, Bolsonaro está correndo o risco de, como Carolina, não ver o tempo passar na janela e não perceber, por exemplo, que o general Mourão de hoje está longe de ser parecido com o outro, daquela época, que dizia: “sou uma vaca fardada”.
O capitão teima em dirigir o país olhando pelo retrovisor e fazendo afirmações como “o erro da ditadura foi torturar e não matar” (agora ele diz que não houve ditadura) e exaltando como “herói” um torturador que a Justiça, não os comunistas, reconheceu como tal, o coronel Ustra.
Como acreditar numa “nova política” movida pela nostalgia de um tempo de trevas e de feridas que se quer cicatrizar, não reabri-las? Como entender que alguém eleito pelos votos continue fazendo a apologia de um regime que os aboliu, que censurou, perseguiu, prendeu, torturou, matou e exilou?
Espera-se que os Bolsonaro — o pai e os rebentos — ainda venham a descobrir que democracia, como ensinou o velho Churchill e nunca é demais repetir, é o pior dos sistemas, com exceção dos outros.