Se estudarmos a geografia na escolha dos jesuítas do planalto para nele instalar uma escolinha e uma capela minúscula, para o ensino uma das instalações e para as obrigações religiosas a outra, vemos que procuraram lugar aqui para a defesa e paralelamente para evitar as enchentes. Lembremo-nos que era janeiro quando São Paulo foi fundada e que o futuro vale do Carmo estava alagado ou deveria estar bem alagado, com o desbordamento do Tamanduateí.
Passaram-se quatrocentos e cinqüenta anos e ainda estamos vendo São Paulo quase abismar-se em alagamentos, tamanho o número deles, nos mais variados bairros da cidade. E fora da cidade, nas vizinhanças da capital, como ocorreu com São Bernardo, onde foram registradas morte de crianças, colhidas pelas enxurradas. Passaram pela Prefeitura nesses quatro e meio séculos dezenas de prefeitos e em lugar de resolver o problema, o aumentaram.
Foram construídos piscinões, para armazenar a água das enchentes, mas tão mal feitos, com tanto desperdício de dinheiro do contribuinte mal servido, que nada concorreram para represar as águas e proteger os bairros alagados dos alagamentos em tempos chuvosos como o início do verão, que, deverá ser chuvoso, de resto não só no Brasil, mas no hemisfério norte, dos Estados Unidos à Rússia, com brutais alagamentos em todos os países.
Se, pois, as enchentes são uma praga periódica, causando prejuízos e mortes, manda o mais comezinho dos deveres das autoridades municipais que enfrentem o problema com determinação, em lugar de querer impressionar o município com obras suntuosas e visíveis, para garantir a eleição e reeleição. O problema das enchentes tem, evidentemente, solução. Basta querer. Mas os prefeitos têm outras preocupações, que lhes dizem respeito diretamente, qual seja, a eleição. A urna. E nada se faz ou se faz pouco. Atribua-se, pois, à Prefeitura a praga das enchentes.
Diário do Comércio (São Paulo) 20/01/2005