Num estudo publicado no Digesto Econômico faz alguns anos - cito-o de memória, portanto não menciono o nome para não errar -o autor previa para o ano 2000, que já ficou para trás, a população de 200 milhões para o Brasil.
Enganou-se, embora fosse exímio conhecedor de demografia. Mas temos 180 milhões e, o que importa assinalar agora, lemos a notícia de que o estado de São Paulo vai para 40 milhões, uma população maior do que muitos países integrantes de mercados comuns e uniões, como a Européia no último caso, e os países centro-latino americanos, no primeiro caso.
O problema demográfico brasileiro tem de ser equacionado na perspectiva de nossas possibilidades. Citamos um exemplo, o nordeste, região que deveria preocupar mais os governos que seguem na suprema posição do Brasil administrativo e político. O problemas das secas, por exemplo, é secular. O Departamento Nacional de Obras contra as Secas tem cerca de um século e até hoje a seca não foi enfrentada segundo a tecnologia desse fenômeno. O das populações sofredoras, enquanto todos os governos não se preocupam com os pobres retirantes, com as famílias que não têm o que comer, por secarem as plantas sob a soalheira terrível de parte do Ceará e de seus vizinhos.
Deveria ser reduzida a seca na economia brasileira e aproveitado o Nordeste para promover ainda mais o agrobusiness, evitando-se, ao mesmo tempo, o êxodo das populações assoladas pelos sóis inclementes nos meses de verão, quando não chove, nem mesmo com as orações de que dispõe a Igreja para essas situações desesperadoras.
Mas não se quer ouvir falar de seca, açude, combate, retirante, sacrifício de vidas sob o sol, nas rodas sociais de políticos bem situados. Como nos bares da moda, eles querem rosetar, fica tudo por isso mesmo, pois os salários são certos no fim dos meses, creditados nos bancos escolhidos para esse fim.
Já o caso de São Paulo é diferente. Embora o Trópico de Capricórnio passe justamente sobre a cidade de São Paulo e teve, mesmo, um monumento na via Bandeirantes, perto de Campinas, o clima é favorável à expansão da vida e para o salto industrial, de que foi um dos pioneiros o fundador da dinastia Matarazzo, o primeiro conde de uma linhagem feita por um rei da Itália em recompensa aos serviços prestados pelo ilustre imigrante.
São Paulo capital já deveria ter parado de crescer, como pregava o saudoso prefeito José Carlos de Figueiredo Ferraz. Mas continua a se expandir, agora atirado num boom imobiliário como nunca se viu antes. São Paulo ficaria bem com seus 10 milhões, enquanto as cidades do interior prosperariam, podendo acolher mais população debandada pelo sol impiedoso.
É o que pensamos do problema da demografia, visto que dela ninguém cogita, embora seja de importância vital para a nação, que tem de criar empregos, facilitar o acesso aos bens de consumo e de nutrição; enfim, deveriam cuidar do povo, que comparece às eleições para garantir a democracia.
Diário do Comércio (SP) 31/5/2005