Não são apenas os educadores que devem ser ouvidos quando se trata de discutir o futuro da educação no Brasil. Para uma visão do todo, não basta descer o olhar para o umbigo. É pouco. Quando Roberto Campos, de tantos feitos econômicos, escrevia sobre educação, com a sua notória inteligência e experiência internacional, a sua opinião era sempre saudada ou, pelo menos, merecia uma cuidadosa reflexão.
No Conselho Técnico da Confederação Nacional do Comércio, o escritor Gilberto Paim recordou, de forma competente, pelo poder de síntese elogiável, algumas idéias sobre educação de Roberto Campos, extraídas sobretudo do seu clássico "Ensaios contra a maré" (edição de 1968). O que se pode reparar é que o pensamento não perdeu atualidade, apesar de decorridos tantos anos. É a melhor prova de que ele provou a mente privilegiada do criador do BNDE.
Primeiro, ele considerava uma ilusão mecanicista a importância excessiva atribuída ao investimento em equipamentos e construções, comparativamente ao investimento espiritual em educação e tecnologia. Depois, ele foi mais enfático: "As deficiências da educação básica e a insuficiência de mão-de-obra e técnicos qualificados atingiram proporções alarmantes, constituindo um ponto de estrangulamento ainda mais sério, porque de superação mais lenta que os verificados em energia e transportes". Há algo mais oportuno?
Como homem que sabia o valor do dinheiro, Roberto Campos, referendado pelo estudioso Gilberto Paim, afirmava que "poucos investimentos terão maior produtividade que os realizados em educação e treinamento; o Brasil não gasta pouco na área, mas gasta de forma equivocada." Tornou-se uma frase histórica, que resiste ao tempo não porque seja reveladora de uma época, mas porque continua atual, como foi dito de forma exaustiva pelos pretendentes à Presidência da República, nas eleições de 2002.
Condenando o modelo elitista adotado pela Inglaterra, Roberto Campos chamou a atenção para o modelo americano: a) democratizar o ensino universitário, aproximando-o das massas; b) avançar com certo equilíbrio em todo o leque de conhecimentos humanos; c) conjugar a ciência e a tecnologia, associando a universidade à indústria e à tarefa do governo. Assim, segundo ele, seria possível investir na formação de minorias criadoras, sabendo-se que nem todos os jovens que completam o ensino médio têm aptidão intelectual para o ensino superior (a média seria de 20% a 30%).
Temos uma relação aluno/professor exagerada e um custo aluno/ano que supera o de nações desenvolvidas, como os Estados Unidos, a França e a Inglaterra. Será que isso não foi visto pelos "gênios" que ultimamente tomaram conta da educação, no Brasil? Eram vidrados em números, talvez especialistas em manipulação aritmética, mas fora da realidade do que o País necessita e clama, Gilberto Paim foi muito feliz ao recordar esses fatos, a pretexto de homenagear o acadêmico Roberto Campos.
Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) em 06/10/2002