Passei um dia no Haiti, entre dois vôos, para conhecer o país exclusivamente pela sua capital, Porto Príncipe. Obtive alguns folhetos de propaganda, um livro sobre o Haiti, que perdi, e fui embora com a impressão de estar no país mais desgraçado do mundo. Um povo que vive abaixo do nível de miséria, que é o que se via observando as ruas e as praças da capital.
Quando lá estive, era ainda o tempo do Papa Doc, uma ditadura brutal e sangüinária, praticante do vodu, prática pseudo-religiosa de que temos imagens, no Brasil, em alguns terreiros espalhados pelo país. O Haiti está, neste momento, em situação efervescente, de inteira anarquia. Tropas da ONU foram destacadas para a paz e fazer o país retornar ao regime de livre exame e consulta eleitoral. Ao Brasil coube enviar soldados e um comandante, o general Urano Teixeira da Matta Bacellar.
Deste general pouco sabemos. Estava em fim de carreira, sabe-se que era aplicado aluno do seu ofício e que poderia prestar bom serviço ao País, como prestou, sendo esse o motivo para comandar a força da ONU. Suicidou-se provavelmente sobre pressão da angústia diante do espetáculo que via, da massa miserável que nada pode esperar do mundo. O Haiti precisa ser governado com ordem e decência, o que, ao meu ver, parece impossível.
Tenho poucas considerações a fazer sobre o Haiti, conheço pouco, praticamente nada. Pode-se dizer que o Haiti é um remanescente do colonialismo do século XVIII, prolongado no século XIX e até hoje vivendo como uma infeliz nação. O que há no Haiti é o regime servil, ainda que oficialmente façam seus efêmeros ou ditatoriais governos. Curioso que para governos negros os negros são considerados escravos de fato.
O que se pode dizer do Haiti é somente isso, depois do tiro que levou deste mundo o prestimoso general Urano Bacellar. É tudo que se sabe do pobre Haiti.
Diário do Comércio (São Paulo) 19/1/2006