RIO DE JANEIRO - Começou aos poucos, como as tempestades e as gripes. Cariocas preocupados com a violência, sobretudo nos bairros da classe média, se cotizavam e contratavam equipes de segurança para guardarem determinadas ruas ou quarteirões. Antes da classe média se prevenir, a classe mais alta já dispunha de seguranças particulares que levavam as crianças ao colégio e as madamas aos compromissos sociais.
Os ciclos econômicos têm como base a necessidade. Assim como foram criados os planos de saúde para suprir a deficiência do Estado no setor, logo surgiu a necessidade de suprir a ausência do Estado na segurança pública e, sobretudo, na segurança particular. Daí os muitos serviços que foram criados e desenvolvidos na base que costuma desaguar nos monopólios.
Como os traficantes que travam a guerra pelo monopólio da droga em determinadas áreas da cidade, os grupos de segurança começam a se guerrear em busca da consolidação dos territórios mais promissores. E tal como nos tempos das gangues de Chicago, quando vigorou a lei seca, a segurança é vendida em forma de chantagem: quem não paga proteção, sofre as conseqüências.
Os jornais cariocas da semana passada relataram diversos casos dessa guerra suplementar que ameaça expansão e profundidade. Confiados na falta de policiamento generalizado, os grupos de segurança loteiam entre si o mercado e, como sempre ocorre uma intromissão indébita por parte de um bando rival, o tiroteio entre os que vendem segurança não se diferencia da guerra do tráfico, que também luta para marcar o território.
Os "segurados", se não aceitam a segurança marginal, correm o risco de serem advertidos com pequenos assaltos que aos poucos podem se tornar dramáticos.
Folha de S. Paulo (SP) 1/7/2008