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Piedade para o planeta

 

O professor Edgar Morin é conhecido no Brasil, não só por suas obras, que são numerosas, como por ter estado na Universidade Cândido Mendes, dando conferências sobre a crise planetária da qual já tanto nos habituamos que não a percebemos como antes, se não nós, os nossos antepassados. Escritor prolífico e bem orientado nas suas reflexões sobre o planeta, acaba de conceder à revista Le Point , uma entrevista arrepiante, tais as suas conclusões.


De início, diz Edgar Morin respondendo ao repórter que lhe colocou a questão: "O mundo vai tal mal como dizem". Respondeu o entrevistando Edgar Morin: "O mundo vai para a catástrofe" e citou um sábio, Heinz von Foerster, para quem o mundo marcha para uma catástrofe global. Cita, então, os sinais dessa catástrofe, anunciada, na barbárie diante de povos contra povos, a barbárie gelada da tecnologia, e o maniqueismo do Bem contra o Mal, sobretudo o Mal na História.


Confesso que a leitura da entrevista de Edgar Morin me fez mal. Eu já ando às voltas com a doença tenaz que sofre minha mulher, neste momento, e ainda procuro em autores que tem acesso à mídia, posições rigorosamente bem expostas que anunciam a catástrofe na qual será mergulhado o mundo. Tudo concorre para o mal, acentua Edgar Morin, até o componente religioso, do fanatismo islâmico contra o catolicismo, e o outro lado das Cruzadas voltando-se contra os defensores de Cristo há centenas de anos.


Para Edgar Morin, como vemos, não temos salvação. Diz esse autor que o comunismo, durante alguns anos, os setenta de sua duração, substituiu as religiões teológicas. Com a queda do comunismo, o seu soçobro como religião temporal, voltaram as religiões que sempre foram cultuadas pela humanidade, e o que vemos é que não há paz nas alturas teologias e, até mesmo, a caridade sobre a qual o professor Miguel Reale escreveu belo artigo, já não é amor, nem tem eficácia para os alienados da sorte. Em que ficamos? perguntando aos leitores. Ficamos à espera da catástrofe, mas sem dar muita importância a ela.




Diário do Comércio (São Paulo) 07/12/2004

Diário do Comércio (São Paulo), 07/12/2004