Dois ex-presos políticos argentinos se encontraram, já de volta ao país, depois de muitos anos sem qualquer contato. Sentaram-se num bar na Av. de Maio e começaram a se lembrar dos anos negros da repressão, quando as pessoas sumiam sem deixar vestígio. A certa altura, um perguntou ao outro: “Quanto tempo você ficou preso?”. “Dois anos”, respondeu o homem acomodado do outro lado da mesa: “Sofri torturas pelas quais nunca imaginei que pudesse passar na minha vida. Minha mulher foi violentada na minha frente. Mas os responsáveis já foram presos e condenados. Isso é o que importa”. “Ótimo. E sua alma já os perdoou também?”, insistiu o primeiro. “Claro que não!”, replicou o outro, veemente. “Então, você ainda continua prisioneiro deles”.
Extra (RJ) 20/1/2008