Neste fim de Semana Santa, é triste e preocupante constatar que a violência ampliou seu campo de ação e chegou à política. Ao mesmo tempo em que o ministro Edson Fachin, do STF, revelava que ele e sua família estão sofrendo ameaças, dois ônibus da caravana do ex-presidente Lula no Paraná eram atingidos não mais por ovos e pedras, mas por balas dirigidas, não perdidas. É indispensável que o repúdio geral, inclusive dos opositores do líder petista, se transforme numa investigação que descubra os responsáveis. O alvo não foi atingido, mas a democracia sim.
Enquanto isso, no Rio a violência urbana aumentou no primeiro mês de intervenção militar. Além dos números, há sinais inequívocos. O maior deles foi emblemático: o assassinato, com características de execução, da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes, um crime que permanece impune até a hora em que escrevo, torcendo para ser desmentido quando a coluna for publicada.
Só nos dez primeiros dias da chegada dos militares houve 47 mortes violentas e 250 tiroteios na Região Metropolitana do Rio. Do sábado passado até segunda-feira, nove pessoas foram mortas em confrontos na Rocinha. Em Botafogo, a tentativa de assalto levou pânico aos frequentadores de um shopping, com pessoas se jogando ao chão ou correndo sem saber para onde.
Diante desses e de outros exemplos, as Forças Armadas mudaram de estratégia e foram patrulhar as ruas para dar uma sensação de segurança à população. E deram — quando foram vistas. Houve muita reclamação quanto ao sistema de policiamento volante, que consistia em permanecer menos de uma hora em cada lugar. O resultado é que, quando iam embora, o medo e a desconfiança voltavam.
Na terça-feira, uma equipe do GLOBO percorreu 24 quilômetros de ruas da Zona Sul e só encontrou patrulha em uma esquina de Copacabana, onde estavam duas viaturas da Polícia do Exército com quatro soldados que saíram cinco minutos depois da chegada dos repórteres. Outra medida que desagrada é o horário de patrulhamento: ficam nas ruas das 8h às 17h.
A maior frustração da semana talvez tenha sido a inspeção de Bangu 3 no Complexo Penitenciário de Gericinó, onde funcionam os chamados “escritórios do crime”. Ali, os 220 homens do Exército e os 120 inspetores de segurança da Penitenciária só encontraram para apreender, acreditem, um celular e dezenas de ventiladores.
Estou entre os 76% dos cariocas que na pesquisa do Datafolha apoiam a intervenção militar e entre os 71% que acham que a atuação das Forças Armadas não surtiu efeito, pelo menos até agora.
Em suma, acredito que a população tem consciência de que o fracasso da intervenção seria (ou será) não apenas a perda de mais uma batalha contra a violência, mas da própria guerra.