Como todo brasileiro que se preza, me concentrei sexta-feira em assistir pela televisão o jogo de futebol decisivo da Copa do Mundo de clubes, entre o Fluminense e o tricampeão inglês, o Manchester City. Graças ao treinador Fernando Diniz, o Fluminense tem se revelado nosso time mais próximo de um futebol moderno, como ele vem sendo jogado nas capitais da Europa e nos principais centros esportivos pelo mundo afora.
A Inglaterra se tornou um desses centros, lá se tem praticado esse futebol graças a recursos dispendidos na contratação de craques que eles atraíram de toda parte e à inteligência de um antigo meio-campista espanhol que vi jogando no time do Barcelona e é hoje treinador do City, chamado Pepe Guardiola. Guardiola é um herói do futebol moderno, o principal responsável por sua introdução técnica no mundo esportivo mundial, graças a seu sucesso com times ingleses que ele preparou para nunca perder de ninguém.
Bem, minha ilusão esportiva desmoronou diante do campeão inglês avassalador que derrotou minha esperança nacional por 4 a 0, com absoluta e indiscutível superioridade em campo.
Confesso que me deu uma certa pena dos Ninos, dos Marcelos e de outros tricolores que se empenhavam em tentar impedir o sucesso dos ingleses, mas não conseguiam reverter o placar e a tendência do jogo. Eles, como toda a equipe carioca, se irritavam com a superioridade dos ingleses que tinham até um pontinha da seleção portuguesa que se destacava e parecia zombar dos adversários. A partir de certo ponto passei a me interessar mais pelo destino dos desafiantes do que propriamente pelo que via acontecer no estádio árabe.
Para que diabo de lado foram as tradições de poder do mundo europeu e ibérico, diante daquela associação de invenções técnicas de origem sei-lá-qual? Onde estão os descendentes dos grandes poetas como Luís Vaz de Camões, dos consagrados inventores das viagens marítimas, dos reis e rainhas e nobres das cortes sobre quem lemos tanto? O que aconteceu com essa gente preparada e sábia que fez do continente europeu um exemplo de vida para nós? Como imitar sua história se a história que temos deles agora é uma sucessão de insignificâncias?
Na verdade, temos que saber que a história nunca é a mesma ao longo do tempo e que o que é bom hoje pode não ser mais amanhã. E o amanhã pode até não existir para o que precisamos dele.
Ultimamente tenho me interessado bastante pela cultura indígena da Amazônia e seus vizinhos. E essa cultura parte da ideia de que a Natureza é uma coisa a ser preservada, enquanto o Ser Humano é outra coisa que pode ou não sofrer um processo de preservação, dependendo em que ele está empenhado. Os livros de Ailton Krenak me ensinaram a importância dessas ideias, é como se estivéssemos de volta a um passado longínquo (ou não), em busca de uma verdade que nos ajude (ou não) a melhor viver, a encontrar de fato o que está diante de nós e nos falta.
Não estou com isso elogiando a ideia de que devemos procurar em outro lugar esse nosso exemplo a seguir. Não sei se o Ser Humano nascido em outras terras nem por isso será melhor do que nós; ou criará seu futuro melhor do que o que podemos fazer. Não sei. Mas sei que se estivermos dispostos a criar um mundo novo ou a inventarmos um novo modo de estar no mundo, mesmo que seja o continente europeu de séculos passados e a tradição cultural que ali vigorava, o resultado será bem apurado e nunca vindo da neutralidade.
Porque a neutralidade é uma escolha muito sem graça. Mais ou menos como você ir a um baile e decidir que não dança. Seu corpo não sabe dançar e “a vida é dança, uma dança cósmica”.
e nós não absorvermos logo essas ideias, não chegaremos nunca a um equilíbrio na dança da vida. “A dança da vida que transcende a separação entre natureza e cultura”. Não conseguiremos nunca entender o que Guardiola, Krenak e sua turma estão querendo de nós.