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Pega leve, o cidadão é "de" menor

 

Se me pedissem uma definição do voto, eu diria que o voto é o selo da cidadania; ou que é o atestado do cidadão. Então, como é que se concilia a idéia de dar um diploma de cidadão ao jovem que completa 16 anos, quando esse mesmo jovem se mantém na condição de irresponsável perante a lei, sob a alegação de que até aos 18 anos ele ainda é menor - ou "de menor", como diz o povo? Se o jovem cidadão ou (cidadã) tem discernimento suficiente para votar no presidente da República, como não o terá para distinguir o bem do mal, o crime da inocência - que são conceitos muito menos complexos do que as avaliações políticas que levam ao voto consciente? Criancinha ainda, antes mesmo de saber o que é um presidente, um governador, um deputado - essa criança já sabe que é proibido roubar, ferir os outros, e, acima de tudo, matar. Então, depois da onda ecológica, as crianças cedo aprendem a respeitar a vida, até a dos bichos - ou principalmente dos bichos. Quanto mais a vida das pessoas.


É o absurdo da legislação civil que cria esse disparate legal. Um latagão (ou latagoa?) de 16, 17 anos, em pleno vigor físico de adulto, capaz de exercer todas as atividades sociais do cidadão (e as anti-sociais também), capaz de uma vida sexual plena, inclusive gerar filhos, podendo já ser um atirador exímio, assaltante, seqüestrador e não apenas "avião" de traficante (que isso é para crianças), mas traficante propriamente dito - esse adulto indiscutível - é ainda irresponsável perante a lei - por ser "de menor"!


Por isso mesmo toda quadrilha que se preze dispõe de seus contingentes de supostos menores que podem matar, estuprar, ferir, assaltar impunemente, até os 18 anos completos, porque a lei os considera crianças. E os profissionais do crime, aproveitando essa brecha da lei, cada dia usam mais "menores" nas suas quadrilhas. E esses "menores" assumem até posições de mando, já que adultos o são, biologicamente, e só o olho vendado da justiça os enxerga como infantes.


Esses menores das gangues, que, de maneira incrivelmente bestial e bárbara trucidaram, há pouco, um outro menino, com certeza vão apenas passar uma temporada num reformatório, onde poderão ensinar tudo o que sabem e usam no exercício do crime, aos menores de verdade que com eles vão conviver; depois de considerados "recuperados" (!) voltam às ruas, às quadrilhas, ao crime organizado e ao desorganizado também, apoiados pela mão condescendente da lei.


Seria isso um disparate se não fosse uma espécie de conivência legal com o crime. Meninos ou meninas de mais de 16 anos são responsáveis, sim. É o que nos ensina o bom senso, a experiência, a lei biológica.


Se pode exercer a cidadania, votando, já é um cidadão, e como tal tem que ser responsável. Aliás, se um menor, eleitor, cometer um crime eleitoral responderá por ele? Pela lógica atual, não. E vocês já pensaram se os cabos eleitorais resolverem usar isso? O que vai haver de eleitor "de menor" utilizado para todas as falcatruas eleitoreiras?


 


O Estado de São Paulo (São Paulo - SP) em 28/09/2002

O Estado de São Paulo (São Paulo - SP) em, 28/09/2002