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Pedagogia da amizade

 

Fracassos e sucessos costumam caminhar lado a lado. Quem tem um bom projeto de vida, no entanto, pode construir uma sólida identidade, que o levará a um destino feliz. Isso, é claro, depende da orientação recebida de pais e professores, o que ocorre ao longo da vida no lar e na escola.


Gabriel Chalita, embora jovem, destacou-se em nossa sociedade como educador e escritor. Depois de ter dirigido a Secretaria de Estado de Educação de São Paulo (Governo Geraldo Alckmin), de forma competente, entregou-se à divulgação das suas idéias, como bom samaritano, realizando palestras e lançando livros sempre com muito sucesso.


O mais recente foi  “Pedagogia da Amizade” (Editora Gente, SP, 2008), em que analisa fortemente o conceito de bullying, ou seja, o sofrimento das vítimas e dos agressores. É um fenômeno universal, que merece profunda reflexão dos mestres brasileiros. Falta amizade entre as pessoas, especialmente na fase escolar, causando danos muitas vezes irreversíveis na formação humana.


Todos sabemos que a discriminação é um mal condenado pela Constituição brasileira. A Lei Afonso Arinos foi uma das maiores conquistas da nossa democracia, abrindo caminho para uma vida de valorização da igualdade. Ao pesquisar sobre os malefícios do bullying, Chalita chegou a uma triste conclusão: hoje em dia, há violência em cerca de 45% das escolas municipais de ensino fundamental (pág. 121). A dinâmica é completa: ocorre do professor para o aluno e vice-versa, com a precária intervenção dos diretores no processo.


Estudando profundamente as obras dos filósofos gregos Sócrates, Platão e Aristóteles, Gabriel Chalita defende a rigorosa coerência entre discurso e ação. “Quando isso ocorre, os resultados são melhores.” Concluiu que o adolescente, que adora poesia, não se comove com conselhos, mas sensibiliza-se com o sofrimento alheio. Se a educação é a arte do coração, por aí existe um imenso caminho a ser percorrido. O que não quer dizer que os pais devem criar os filhos em redomas, protegidos do mundo, porque isso também dificulta a obtenção de bons resultados. O mestre deve saber o que dizer – e o como dizer. Assim ele terá mais êxito no trato dos distúrbios de atenção ou hiperatividade, fenômeno nem sempre bem entendido nas escolas. A compreensão deve vir antes da punição.


Chalita defende a arte de educar, reservando ao mestre a tarefa de instigador, com o emprego necessário da cumplicidade, da amizade (sempre). Parábolas são sempre benvindas, embora a postura tenha muito mais importância do que as palavras. Quando se registra que a humanidade parece ter se desumanizado, versos e expressões de grandes autores brasileiros (Castro Alves, Gonçalves Dias, José de Alencar, Machado de Assis), ao lado de letras de músicas modernas, podem levar emoção ao espírito dos alunos, fazendo-os comungar de melhores propósitos. Na condução do saber, dentro do princípio da parceria, respeitada a diversidade, pode-se viver um tempo melhor em sala de aula, com a drástica redução da violência que hoje infelicita a relação ensino-aprendizagem.


Jornal do Commercio (RJ) 15/8/2008