O otimismo em relação às UPPs já foi maior, mas ainda existe, embora seja abalado cada vez que há um episódio como morte recente de jovem no Morro da Providência
Não é só um problema do Rio. Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública para 2014, a cada meia hora uma pessoa foi assassinada nas capitais do país. Mas a nossa posição no ranking nacional de violência é humilhante, principalmente se comparada à de São Paulo, que apresenta 11,4 assassinatos por 100 mil habitantes, enquanto o nosso índice chega a 20,2 homicídios. O pior desempenho é o de Fortaleza, com 71,3.
De acordo com a diretora do Fórum, Samira Bueno, o Rio tem a seu favor “bons exemplos” recentes na área de segurança. “As UPPS deram a sensação de que é possível reverter o quadro de violência”. A questão é saber se é possível reduzir a criminalidade só com a ação da polícia, sem o acompanhamento de políticas sociais.
Esta semana, dois crimes mostraram a dupla face dessa guerra urbana: Além da execução por PMs de Eduardo Felipe, o rapaz de 17 anos, houve a do soldado da PM Caio César, de 27 anos, por traficantes. Ele era um dublador de sucesso e um policial exemplar. O primeiro era um adolescente com passagens pela polícia e envolvimento com o tráfico.
O vídeo da morte do rapaz feito por dois moradores da comunidade, um homem e uma mulher, produzindo o flagrante da ação de cinco PMs, chocou pelas imagens e pelo áudio, com o espanto e os comentários dos que filmaram a cena. Colocar um revólver em sua mão e disparar para simular confronto — ele já baleado, estendido no chão — não deve ter sido uma farsa improvisada, provavelmente foi encenada outras vezes. “Minha perna está tremendo, é a primeira vez que vejo alguém morrer”, diz o homem.
Em outro momento, a mulher repete baixo para não ser ouvida: “assassinos, assassinos”. O governador Pezão classificou o episódio de “abominável”, os militares foram presos e devem ser expulsos, mas a população quer mais do que isso, quer que esses desvios não se repitam. Eduardo devia ser apreendido e julgado, mas nunca executado sumariamente por policiais, a exemplo do que os bandidos fazem.
No seu enterro, as pessoas exigiam justiça, menos o pai do menino que, apesar da dor, não propôs vingança nem mesmo punição: “Eu quero enterrar meu filho em paz. Não quero mais nada”. O Rio também anseia por paz.