Parabéns, Fernanda. Você que chega aos 90 anos com a inteligência e o impulso vital intocados, assim como a coragem de viver sem tempos mortos. Parabéns não só pela atriz genial que você é há sete décadas, sobretudo pela vida vivida, honrada, irrepreensível.
Parabéns pelo Prólogo, a infância difícil no plano material, nem por isso menos feliz, a ensinar para toda a vida que a solidariedade familiar vale mais que uma conta em banco, que a cultura é um bem precioso e que o sentido moral se aprende na infância. Em tempos de desvairada corrida ao dinheiro, aos podres poderes, quando tudo e todos parecem ter preço, é uma herança inestimável a que você nos lega.
Parabéns pelo Ato, pelos atos, por cada pano que se abria como uma janela sobre o infinito, proporcionando tantos mundos à adolescente que eu fui e que lhe aplaudia de pé. E aplaudo ainda. Assim como todos aqueles para quem o teatro tem alguma coisa de sagrado, os que choramos no anfiteatro de Epidauro e no Teatro Municipal com a mesma emoção. Esse ofício de que você tanto se orgulha e fala com alegria e paixão. Ouvi você dizer a um grupo de jovens atores que quem não acredita ser o mundo essas três paredes e as tábuas do chão não deve insistir nesse ofício.
Parabéns pelo Epílogo, fértil e corajoso, que há de ser longo e lindo como foram o Prólogo e o Ato. Obrigada por ser a face luminosa do Brasil, a promessa do que ainda não somos mas gostaríamos de ser, nós, esses milhões de brasileiros que lhe respeitam, admiram e têm como exemplo.
Sobre você Caetano escreveu que se o Brasil “nunca se tornar um país são e respeitável, é porque terá traído Fernanda Montenegro”. Não vamos lhe trair. Você se lembra, Fernanda, do que dizia nosso amigo Darcy Ribeiro? Pois é, apesar de tanta sombra, apesar de uma gente vil que lhe insulta e é a nós que ofende, “havemos de amanhecer”. Quando assim for e assim será, terá sido graças aos grandes brasileiros como você, como Darcy e Caetano.
Obrigada, minha amiga. Feliz aniversário, Fernanda.