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Para mudar o software

 

No século XVIII, o relógio tornou-se paradigma de organização do Estado, tomando o lugar de metáforas mais singelas do poder político, como a do pastor ou a do timoneiro. Representava a ideia de uma máquina apta a organizar a vida da comunidade política com as virtudes da regularidade, cabendo ao governante apenas zelar pelo seu contínuo funcionamento.

Este paradigma tornou-se obsoleto com a complexidade crescente das sociedades contemporâneas, que exigem mudanças e adaptação para enfrentar sempre novos desafios. Por isso, o paradigma do relógio é substituído pelo do computador, uma metáfora dos nervos da governança, como sugere Karl Deutsch. Lida com a “entrada” do fluxo de demandas, administrando-as com seus programas e gerando, deste modo, os resultados da ação governamental — a “saída” —, permitindo avaliar, ao mesmo tempo, por aproximações sucessivas, a maior ou menor necessidade dos updates da reprogramação.

É esta a questão das eleições presidenciais do segundo turno. Elas são a oportunidade para o eleitorado avaliar se chegou a hora de atualizar o software do governo.

No primeiro turno, cerca de cem milhões dos 142 milhões de eleitores registrados se negaram a manter o software atual: este foi o total de votos em candidatos da oposição, nulos, em branco e abstenções.

Ficou claro que a maioria não deseja a continuidade dos bugs e malfeitos do modo de governar do PT, que, após 12 anos, dá claras indicações de “fadiga dos materiais”. Daí a importância de alternância democrática, com a eleição de Aécio Neves, para uma renovação apta a lidar com os desafios do Brasil.

A campanha eleitoral e a história revelam a qualidade dos candidatos e dos partidos. Ambas mostram que a candidatura Aécio está voltada para somar, e a de Dilma, para dividir. Dilma explicita o DNA do PT, que toma a rejeição como ódio, assume a má-fé da fantasia das suas virtudes e desqualifica os seus opositores com a mentirosa “asfixia dos rótulos” para evocar um verso de Paulo Bomfim.

Aécio toma o sentimento oposicionista como estímulo para fazer mais e melhor em termos de estabilidade e desenvolvimento econômicos, políticas de inclusão social, sustentabilidade ambiental, infraestrutura, qualidade de gestão, direitos humanos, inteireza ética.

A história mostra que Dilma, que só concorreu a um cargo público na vida, é capaz de dividir. No poder, alienou sucessivamente partidos da sua base aliada, líderes do seu próprio partido e a maioria dos empresários.

A trajetória de Aécio comprova sua capacidade de somar. Em 2001, foi eleito presidente da Câmara dos Deputados com mais votos do que os dos seus três adversários. Em 2002, elegeu-se governador de Minas no primeiro turno com 57% dos votos e se reelegeu em 2006 com 73%.

O Brasil em 2014 precisa somar, não dividir. Por isso é tão importante votar em Aécio Neves no domingo.

O Globo, 24/10/2014