Antes da morte de João Paulo II, o cardeal Josef Ratzinger era conhecido como panzen cardinal , por sua ação vigorosa na defesa da doutrina católica, em um mundo que dá poucos ouvidos às doutrinas.
Não duvido que o papa Bento XVI tenha pedido a Deus para não ser eleito chefe da Igreja. Mas, uma vez eleito, e no Conclave não há artimanhas que inutilizem um pleito, o que sai das urnas que colheram os votos necessários à eleição de um cardeal são líqüidas e certas.
O papa Bento XVI já começou a dar a idéia de como vai ser o seu pontificado. Teólogo e filósofo, já fez uma homilia, no dia da primeira missa, em que a doutrina católica está excelentemente exposta. Agora, invectivou o relativismo, segundo, sempre, a filosofia esposada pelo catolicismo em geral, na maioria das vezes em Santo Tomás de Aquino, proclamado por Leão XIII o filósofo da Igreja, e filósofo da Igreja tem sido, ainda que outros filósofos católicos tenham até agora estudado e difundido a doutrina sem impedimentos.
Resumindo, o papa Bento XVI conhece a fundo os problemas que a Igreja enfrenta no mundo inteiro, com a perda de fiéis, enquanto numerosas seitas prosperam, tendo, algumas, mesmo, organização mundial de empresas de notícias, de transmissão de programas de televisão e jornais de grande ou média circulação.
Quando o papa João Paulo II iniciou a difusão de suas encíclicas, vimos que estávamos diante de um profundo conhecedor da teologia e da filosofia, vimos que tínhamos um papa erudito. O atual segue a mesma trilha, é um erudito, com quem tive o prazer de conversar durante bom pedaço de tempo, num almoço na casa do saudoso cardeal Rossi.
O que devemos é ter confiança no papa, e saber que seu cabedal de conhecimentos é amplíssimo, que seus conhecimentos dos problemas da Igreja é incomum no Vaticano e fora dele. Disse eu e repeti várias vezes, escrevendo sobre João Paulo II, que o Santo Espírito sabe o que faz. Dei sempre o exemplo de João Paulo II, pois no dia em que ganhou a eleição, nesse dia o comunismo começou a desaparecer, e desapareceu sem deixar outros vestígios senão o dos fanáticos indobráveis, mas, também, sem finalidade.
O papa Bento XVI está mostrando a que veio, apesar de ter pedido a Deus para não ser eleito. Seu pontificado apenas começou. É acompanhá-lo, para até onde chega a sua opulenta bagagem cultural.
Diário do Comércio (São Paulo) 20/05/2005
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