As mídias se dedicaram no fim de semana à vida e à morte de Zagallo, dando-lhe o espaço que ele merecia e talvez até lhe devendo algum. Não vi ninguém se referindo, por exemplo, ao livro "As Lições da Copa", assinado por ele —então ainda apenas Zagalo—, lançado em 1971 por Bloch Editores. Trata da Copa de 1970 no México, a do tricampeonato do Brasil.
Vai da demissão de João Saldanha pelos dirigentes no dia 18 de março, do convite para que ele assumisse a seleção a 73 dias da primeira partida e da Copa, jogo a jogo, até a volta triunfal ao Rio ao som de "Pra Frente Brasil" e sua chegada em casa, na Tijuca. E este último foi o episódio que faltou na cobertura.
Poucos se lembram do inferno vivido pela seleção até o seu embarque para o México. O time, depois de uma campanha brilhante com Saldanha nas eliminatórias, afundou em crise, insuflada por um Saldanha de repente errático e descontrolado, ameaçando quebrar caras, fuzilar desafetos e barrar Pelé por miopia.
Sua demissão, ao contrário do que se diz hoje, não foi política, mas pelo caos e pelos resultados pífios nos amistosos. A chegada de Zagallo não melhorou o quadro. Ele mudou o time, mas este continuou mal nos jogos-treino. A mídia vergastou-o e à seleção todos os dias, até a estreia na Copa e mesmo depois dos primeiros jogos. Ninguém acreditava nele.
Mas o tri calou todo mundo. Conquistada a taça e de novo em casa, Zagallo foi recebido por sua mulher Alcina. Em meio à emoção do reencontro, ele soube dos insultos e ameaças a ela e a seus filhos na rua, em casa, por telefone, dia e noite, por quase três meses, desde que ele assumira o cargo e se mudara para a concentração. Ela o poupara do suplício em que viviam. No livro, um Zagallo transtornado descreve como recebeu aquilo. São páginas de justa revolta.
Sua família sofrera ao vivo o massacre que hoje se pratica pelas redes sociais.