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Outra crônica de 1994

 

Transcrevi ontem uma crônica de 1994 a propósito de um crime na tesouraria da CUT, abafado pela mídia, que, na época, era compactamente petista. Na mesma ocasião, publiquei outra crônica que provocou cartas de leitores pedindo minha cabeça -não me consideravam digno de escrever naquele espaço. Repetirei hoje a crônica do dia 26 de janeiro de 1994.


"Para chegar ao poder pelos meios legais, o PT tem de formar uma frente com outros partidos -o que é elementar e o próprio Lula admite. Nem por isso deixa de ser uma frente misteriosa em si mesma, abrigando divergências não apenas de ideologia e tática, mas de ambições por mordomias e espaço na mídia. (...) Toda comparação claudica, mas o exemplo a que recorro, por mais estranho que pareça, é o da chegada ao poder, pela via legal, do Partido Nazista na Alemanha. Após o atentado na cervejaria de Munique, Hitler percebeu que não adiantava dar murro em ponta de faca e esboçou a estratégia para chegar "lá" pela via democrática, ou seja, pelo voto. Nada de golpes, de guerrilhas ou sabotagens. Abriu frentes que iam do aliciamento de empresários, banqueiros e diplomatas estrangeiros a instituições centristas e jornalistas, conquistando enormes espaços na mídia.


Era o lado "clean" do nacional-socialismo. O lado obscuro foi o domínio de sindicatos que forneciam elementos de espionagem, pressão e chantagem que (...) disciplinavam adeptos e "convenciam" adversários. Hitler perdeu sucessivamente várias eleições. Mas os grupos formados de baixo para cima (a massa dos que desejavam justiça social e dignidade nacional) e de cima para baixo (a nova elite, que desejava substituir a elite prussiana) -essas patrulhas de pressão- atuaram em paradoxal sincronia. (...) O primeiro gabinete de Hitler era de coalizão, só havia dois nazistas no ministério."


Longe de mim comparar Lula com um ditador demente. Ele é a garantia de que não teremos uma ditadura abominável.




Folha de São Paulo (São Paulo) 03/07/2005

Folha de São Paulo (São Paulo), 03/07/2005