Em crônica recente, falei sobre a importância dos trios na música popular e no futebol, mas fiquei neles. Não me esparramei em considerações sobre os trios em geral, esquecendo os de caráter religioso: o Pai, o Filho e o Espírito Santo; o Inferno, o Purgatório e o Paraíso; a fé, a esperança e a caridade.
Os trios estão em toda parte e servem para tudo. O leitor Paulo Rangel de Andrade Filho enviou-me extensa lista deles, a começar pelos três reis magos (Gaspar, Baltazar e Melchior), o lema da Revolução Francesa (liberdade, igualdade e fraternidade), os três mosqueteiros, a Tríplice Aliança, o triângulo das Bermudas, o triângulo dos inconfidentes, que ficou sendo o símbolo de Minas Gerais.
Há também o trio de qualquer República que se preze -Executivo, Legislativo e Judiciário-, as três pirâmides mais famosas (Queóps, Quéfren e Miquerinos) e o próprio corpo humano, dividido em cabeça, tronco e membros.
O leitor lembrou outros trios, e eu lembrei alguns que havia esquecido. Na lógica de Aristóteles, as operações da mente: apreensão, raciocínio e juízo. A frase de César quando voltou vitorioso da Gália: vim, vi e venci. E, nos carnavais de antigamente, a loura, a morena e a mulata, cantadas por Lamartine Babo, Ary Barroso e Braguinha, outro trio por sinal.
Jesus se definiu como a verdade, o caminho e a vida. E três são as partes que vestiam nossos antepassados: calça, colete e paletó. Os tabagistas, entre os quais me incluo, dispõem do cigarro, do cachimbo e do charuto. E os comedores de carne vermelha (também faço parte deles) podem escolher entre o filé bem passado, malpassado e ao ponto.
Imperdoável de minha parte foi ter esquecido, no terreno musical, o Nat King Cole Trio e as Andrews Sisters, que eram três.
Pior ainda: esqueci os Trigêmeos Vocalistas, dos quais, tenho a certeza, devo ser o único sobrevivente de nossa galáxia a me lembrar.
Folha de São Paulo (São Paulo) 26/02/2005