Nem sempre o que caracteriza o planeta em que vivemos é a presença da Humanidade nele. Isso quase sempre nos escapa, passa despercebido. Temos a convicção de que somos os únicos seres pensantes no Universo, embora finjamos prazer em procurar e achar irmãos por aí. No fundo, não gostaríamos de dividir o prazer de pensar com mais ninguém.
A Humanidade sempre foi uma presença tão natural na Terra quanto as matas ou os oceanos, nunca nos ocorre que podia ter sido diferente. Quando começamos a ter encontros que cruzam gerações, quando tentamos entender o que acontece de extraordinário no planeta que aparentemente se desmilingue, o pessoal está mais interessado em falar de outras coisas que não provocam queimadas na Amazônia profunda. Mas então ignoramos o futuro, ficamos sem saber do Brasil do futuro.
Embora a ciência ainda não tenha se manifestado sobre o assunto, esse Homo de Nesher Ramla deve ter sido exterminado pelo ramo palestino de nossa família de sapiens, pois foi isso que fizemos com todos aqueles que se pareciam conosco. Cortamos as cabeças dos bichos e bichinhos que poderiam disputar com a gente o poder no planeta. O resto, mandamos enfeitar os jardins zoológicos de nossas modernas cidades. Na época dos dinossauros, quando os humanos ainda não existiam, a natureza colaborou com a gente, mandando um corpo celeste de razoável tamanho cair sobre a Terra e acabar temporariamente com a vida no planeta. Os dinossauros desapareceram para sempre.
Quando, enfim, os hominídeos começaram a surgir, forças se organizaram contra nossa existência, cobras, lagartos e leões dispostos a fazer de nós alimento. Mas nenhum deles tinha a esperteza de nossa sagaz e rara inteligência.
Nos multiplicamos e assim chegamos ao poder planetário: a Terra existia para que tirássemos dela o maior proveito, uma fonte de riquezas com a qual passamos a exercer o papel de senhores. E avançamos. Fundamos empresas industriais e bancos, novos eletrônicos e viagens ao espaço, computadores e outros milagres, tudo o que a inteligência e a sabedoria, com algum dinheiro no bolso, pudessem criar para o que inventávamos precisar. Nosso poder era exercido com prazer e sem piedade, para melhorar nossa vida.
Depois de suportar por tantos milênios nosso exibicionismo, o que a natureza nos diz agora é que não somos donos da Terra, mas seus hóspedes. Talvez sejamos até convidados especiais, mas temos que aprender a nos comportar como tal. Ela nos adverte com vírus, os menores seres que pode mobilizar para nos dar conta do que sente. Pelo menos uma parte dos vírus, ela deve ter liberado para nos mostrar segredos apavorantes do que é capaz. Como ela fez, num passado longínquo, com os dinossauros.