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Os porteiros e a saúde

 

O Brasil sempre foi considerado um país jovem. Não mais. Com a melhora das condições de vida e da assistência à saúde, a situação está mudando. Nas últimas cinco décadas, a proporção de pessoas com mais de 60 anos de idade na população passou de 8% para 11%, devendo chegar a 30% em 2050, segundo estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Boa notícia, mas que demanda certas providências: idosos, mesmo ativos e cheios de vida, muitas vezes precisam de algum auxílio, por exemplo, para subir ou descer escadas, para carregar um objeto pesado. Quem proporcionará essa ajuda?


 

Os porteiros dos prédios, responde um projeto recentemente lançado no Rio e que se chama, significativamente, Porteiro Amigo do Idoso, coordenado pelo médico Alexandre Kalache, ex-diretor do Departamento de Envelhecimento e Saúde da Organização Mundial de Saúde e conselheiro sobre envelhecimento da Academia de Medicina de Nova York. Conheço o dr. Kalache há muito tempo (trabalhou no Ministério da Saúde e assessorou a Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sul) e sei que, além de ser um especialista na área da saúde do idoso, é um profissional dinâmico e criativo.


 

Criatividade não falta a esse projeto, que terá como cenário inicial o bairro de Copacabana, onde está a maior concentração de idosos do Rio de Janeiro: um de cada três moradores tem mais de 60 anos (o bairro de Higienópolis, em São Paulo, também está incluído). O projeto tem o apoio do Senac e do Bradesco Seguros, o que mostra uma nova e inteligente atitude das companhias seguradoras: ajudando seus segurados a viver mais e melhor, ajudam a si mesmas.

 


E por que os porteiros? Quem mora em prédio sabe que, ao menos no caso dos mais dedicados, esses funcionários não se limitam a vigiar a portaria. Inevitavelmente se relacionam com os moradores, sobretudo aqueles mais solitários e desamparados. Não é raro que idosos confiem a eles as chaves de seus apartamentos, para que possam agir em caso de alguma emergência.




Por meio desse projeto, os porteiros receberão treinamento, devidamente certificado, e incentivos do tipo auxílio para transporte e refeição. Os prédios também ganharão um selo de certificação. A ideia é estender o treinamento a outras categorias, como motoristas de ônibus e policiais, dentro de um programa mais amplo que é o da Cidade Amiga do Idoso.




O projeto encerra uma mensagem importante. A saúde resulta de ações pessoais e também coletivas. É um empreendimento social, classicamente atribuído ao poder público, mas não exclusivo deste. Onde quer que haja uma comunidade, numa cidade, num bairro, ou num prédio, podem ser desenvolvidas ações capazes de melhorar a situação das pessoas. Isto se traduz num aumento da expectativa de vida, o que é ótimo, mas se expressa também no incremento da qualidade de vida. Os porteiros de Copacabana representam a vanguarda de um novo movimento. Seu santo padroeiro, São Pedro (segundo a tradição, o porteiro do Céu), deve estar aplaudindo lá em cima.


Zero Hora (RS), 28/8/2010