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Os livros sublinhados

 

NEM SEMPRE ESCOLHO OS LIVROS que devo ler. São eles que me escolhem, me chamam da prateleira de uma livraria, e muitas vezes os compro sem saber qual a razão; mas cada um deixa sempre algo importante. Recentemente, abri ao acaso alguns volumes de minha pequena biblioteca e copiei trechos sublinhados.


Epíteto e o controle


“De todas as coisas que existem, algumas estão a nosso alcance, e outras não. Estão ao nosso alcance: o pensamento, os impulsos, o querer e o não querer - em uma palavra, tudo aquilo cujo resultado são nossas próprias ações.


Mas existem coisas que surgem sem que possamos interferir, nos surpreendem, e neste caso, é preciso saber olhar com sabedoria o que se passa. O que perturba o espírito do homem não são os fatos, mas o julgamento que fazemos a respeito dos mesmos.


Não peça que tudo na vida siga o caminho de sua vontade. Reze para que as coisas aconteçam como elas precisam acontecer - e verá que tudo é muito melhor do que estava esperando.”


Manuel Bandeira e o rio


“Ser como o rio que deflui

Silencioso dentro da noite.

Não temer as trevas da noite.

Se há estrelas no céu, refleti-las.

E se os céus se pejam de nuvens,

Como o rio as nuvens são água,

Refleti-las também sem mágoa

Nas profundidades tranqüilas.”


Chico Xavier e um texto


“Quando você conseguir superar graves problemas de relacionamento, não se detenha na lembrança dos momentos difíceis, mas na alegria de haver atravessado mais esta prova em sua vida. Quando escapar de um acidente grave, não fique pensando no trauma que ele causou, mas no milagre que lhe ajudou a sair ileso. Quando sair de um longo tratamento de saúde, não pense no sofrimento que foi necessário enfrentar, mas na benção de Deus que permitiu a cura.


Leva na sua memória, pelo resto da vida, as coisas boas que surgiram no meio das dificuldades. Elas serão uma prova de sua capacidade em vencer as provas, e lhe darão confiança na presença Divina, que nos auxilia em qualquer situação, em qualquer tempo, diante de qualquer obstáculo.”


Khalil Gibran e a arte de dar


“Vocês dizem: ‘Eu dou, mas para quem merece.’


As árvores não falam assim, e nem os rebanhos. Eles dão para que possam continuar vivendo; reter é morrer. Quem é digno de ganhar de Deus os dias e as noites, é digno também de receber de vocês tudo que precisa. Quem mereceu beber do oceano da vida, merece também encher sua taça no pequeno córrego de cada um.


Por que exigir que um homem exponha seu íntimo, e desnude seu orgulho, a fim de que possam decidir se ele merece ajuda? Procurem, isto sim, ver se vocês merecem dar.


E vocês, que recebem, não assumam nenhuma dívida de gratidão, para que não se crie um laço de domínio com os seus benfeitores.


Porque, se ficarem demasiadamente preocupados com estas dívidas, terminarão duvidando da generosidade da terra e do Pai - que foi de onde estas dádivas realmente vieram.”




O Globo (Rio de Janeiro) 03/10/2004

O Globo (Rio de Janeiro), 03/10/2004