Um dos motivos que levaram os norte-americanos a expulsar Charles Chaplin dos Estados Unidos foi o fato de Carlitos ter retirado, na antevéspera do crack na Bolsa de Nova York, em 1929, todo o seu dinheiro e ações do mercado. Criou-se um escândalo. Suspeitaram que ele recebera informações privilegiadas.
Chaplin apenas não era burro. Desconfiou do mercado naquela ocasião e havia motivos para isso. Não era apenas o artista mais famoso do mundo, mas empresário, com produtora, estúdios e folha de pagamento das maiores no ramo do cinema.
Corte rápido para o caso de José Sarney. A má vontade contra ele, em certos setores da mídia, e que se estende a alguns leitores que, quanto mais lêem menos entendem de tudo, está insinuando que o senador teria recebido informações sobre a instabilidade do Banco Santos, no qual tinha o depósito resultante da venda de uma fazenda - venda e depósito que constam de sua declaração de renda.
Antes que me acusem de ser amigo e colega de Sarney na ABL, declaro que o sou de fato. Mas não deixei de criticá-lo durante o seu mandato na Presidência da República, sobretudo por ocasião do Plano Cruzado. Na revista em que então trabalhava, o entusiasmo pelo plano fizera imprimir milhares de crachás para identificar os "fiscais de Sarney".
Achei os crachás uma tolice. Mais uma vez remei contra a corrente quando Sarney foi acusado da compra de um ano de mandato. Na realidade, roubaram dele um ano. Ele recebeu um diploma do Tribunal Eleitoral dando-lhe seis anos. Mas, no Congresso, FHC e outros apressadinhos reduziram o mandato para quatro, que na realidade se tornou oito para o próprio FHC.
Colegas e leitores afirmam que minhas crônicas são lamentáveis. Sempre o foram, em minha opinião. Mas fico satisfeito quando recebo críticas. Elas me fazem desconfiar que, eventualmente, como neste caso, estou do lado certo.
Folha de São Paulo (São Paulo) 24/11/2004