Não sei se foi Santo Agostinho ou São Tomás de Aquino que disse ser o Bem uma via única e o Mal uma encruzilhada de caminhos. Pensei nisso ao saber que o dinheiro que comprou o tal dossiê passou por muitos intermediários e chegou a um bicheiro. Honestamente, não entendo como o profissional do bicho tem interesse em influir na sucessão de São Paulo, mas tudo é possível quando se trata do Mal. A mesma coisa aconteceu com o líder do PT que incluiu a Opus Dei na sucessão presidencial. Seria falta de respeito colocar a Opus Dei como uma contravenção do catolicismo, tal como o jogo do bicho é uma contravenção policial. No caso do dossiê, a suspeita do dinheiro do bicho tumultua a apuração do caso, livrando a cara do PT, que afinal seria o beneficiário do documento que, aliás, ninguém leu, ninguém viu nem se sabe se existe mesmo. Quanto à Opus Dei, é uma tentativa de satanizar a candidatura de Alckmin, que disse uma grande verdade: "O futuro governo de Lula acaba antes de começar". Não se precisa de nenhum bicheiro e muito menos da Opus Dei para chegar a essa conclusão. Trata-se de um governante exausto, que já falou tudo o que podia e não podia, já tentou diversos modelos para seu governo e patinou no óbvio do populismo disfarçado em justiça social. Falta agora trazer ao debate eleitoral, neste final de campanha, a Ku Klux Klan e o PCC como interessados nos próximos lances da política nacional. Não esquecendo a torcida da Fiel, que bem poderia fazer uma vaquinha para pagar o dossiê que ninguém levou a sério. Tendo como adversários históricos as elites brasileiras, o PT arranjou agora mais dois inimigos operacionais: o bicho e a Opus Dei. Nada de admirar que ainda inclua a Ku Klux Klan, o Al Qaeda e a torcida da Fiel. Folha de São Paulo (São Paulo) 22/10/2006