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A originalidade de "O Coronel e o Lobisomem"

 

Este ano o jornalista, contista e romancista José Cândido de Carvalho estaria completando 90 anos. Seus amigos, dentre os quais me incluo, sentem falta do convívio alegre que mantinha com todos. Vale recordar a sua grande realização - o livro O Coronel e o Lobisomem - que teve a sua primeira edição em 1964.


O bom debate é aquele que suscita controvérsias. Desenvolver um tema e obter o aplauso geral da platéia pode ser simpático ao ego de cada um de nós, mas não é enriquecedor. Da discussão nasce mesmo a luz.


Vejamos o que aconteceu envolvendo o livro “O Coronel e o Lobisomem”, de José Cândido Carvalho, e a telenovela “O Bem Amado”, do escritor baiano Dias Gomes, nascido em 1922, ambos pertencentes aos quadros efetivos desta Academia, embora em tempos distintos.


O livro, que aborda uma entidade fantástica da crendice popular (o lobisomem), livre criação de vocábulos, alcançou várias edições e ainda hoje é referência até mesmo em declinantes vestibulares. O trabalho televisivo, que consagrou o ator Paulo Gracindo como o prefeito Odorico Paraguassu, da cidade de Sucupira, cheio de “apenasmente” e outros termos híbridos, repetindo a técnica do livro, que é bem anterior em termos de lançamento, teve tantos méritos que obteve audiências espantosas, o que seria impossível ocorrer se o texto não fosse igualmente atrativo.


Vale a pena reproduzir algumas pérolas do coronel Ponciano de Azeredo Furtado, do livro O Coronel e o Lobisomem, e também algumas tiradas do prefeito Odorico Paraguassu, em O Bem Amado:


O Coronel e o Lobisomem:


“Já morreu o antigamente em que Ponciano mandava saber nos ermos se havia uma casa de lobisomem a sanar ou pronta justiça a ministrar”;


“Nos currais de Sobradinho, no debaixo do capotão de meu avô, passei os anos de pequenice, que pai e mãe perdi no gosto do primeiro leite”;


“Esse menino tem todo o sintoma do povo de política. É invencioneiro e linguarudo”;


“Meus dias no sossego findaram quando fui pegado em delito de sem-vergonhismo em campo de pitangueiras”.


O Bem Amado:


“Vamos deixar de entretantos e ir direto aos finalmentes”;


“Esta obra entrará para os anais e menstruais de Sucupira e do país”;


“É com a alma lavada e enxaguada que lhe recebo nesta humildade cidade”;


“Vamos dar uma salva de palmas a esta figura trepidamente e dinamitosa”;


Suscitou-se essa discussão, mas ela se dissolveu na fumaça do tempo. Afinal, com quem estaria a primazia? Ou foi por acaso, coisas do nosso surpreendente subconsciente? Aí está uma primeira razão para evitar a monótona unanimidade e lembrar para sempre os seus inspirados autores.


 


Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) 14/06/2004

Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ), 14/06/2004