Marlene Blois é uma especialista em rádio educativo. Como estudiosa na matéria, guardou uma série de documentos preciosos, como os que se referem à origem da Rádio Ministério da Educação, a antiga PRA-2 do Rio de Janeiro.
Era a Rádio Sociedade, que pertencia a uma série de professores sob o comando de Roquette Pinto. Ao enfrentar dificuldades, aparentemente intransponíveis, no ano de 1936, a emissora e os seus equipamentos foram oferecidos ao então ministro Gustavo Capanema, que, em correspondência de 6 de agosto de 1936, escreveu ao doador: “Certamente que receberei com viva simpatia qualquer gesto da Rádio Sociedade, no sentido de incorporar ao Ministério a sua aparelhagem de radiodifusão. Estação que se fundou com objetivos culturais, esses objetivos estariam resguardados e poderiam mesmo alcançar maior desenvolvimento, com a entrega que o ilustre patrício tem em vista.”
O presidente Getúlio Vargas foi consultado, e aceitou, mesmo sabendo que Roquette Pinto impunha a condição de a rádio não fazer política, pois o seu objetivo era mesmo educativo.
A cerimônia oficial de entrega da estação pioneira ao poder público foi feita no dia 7 de setembro de 1939, sob comoção geral. Em artigo no “Correio da Manhã”, o poeta Carlos Drumond de Andrade afirmou que todo o seu tempo estaria consagrado à obra educativa e civilizadora dos brasileiros: arte, literatura, conhecimento científico, informação geral e diversão amena. Afiança Drumond que “há nas emissoras particulares alguns programas que não seriam possíveis se a estação de Roquette Pinto não houvesse habituado o público a exigir do rádio mais do que este costuma dar-lhe.”
Sob a direção de Fernando Tude de Souza e depois Murilo Miranda, houve um bom aumento de audiência, como disse o poeta, que era chefe de gabinete do ministro da Educação, “e isso se faz sem concessão ao mau gosto. Pela preservação e aprimoramento de um nível quase impecável.”
Foi preservado o lema da estação – “Pela cultura dos que vivem em nossa terra, pelo progresso do Brasil.” Assim a Rádio MEC prestou relevantes serviços educativos e culturais ao país, como no período em que abrigou as crônicas de alguns dos mais importantes escritores do Brasil, entre os quais destacamos Fernando Sabino e Artur da Távola, que tinham um enorme fã clube.
O que é de se lamentar é a deterioração vivida pela Rádio MEC, a que servi como locutor, jovem ainda, na década de 50, apresentando o programa “Juventude Musical Brasileira”, inspirado pelo saudoso maestro Eleazar de Carvalho. Era uma época áurea, em que a emissora se destacava como referência de música clássica. Tinha uma audiência seleta, com os serviços de AM. O seu prédio na Praça da República prestava bons serviços à cultura. Hoje, está fechado, com os estúdios desativados, onde havia espaço até mesmo para uma orquestra sinfônica, de saudosa memória. Uma pena que se trate a cultura dessa forma.