Seria arriscar-se a uma injustiça nomear os padrinhos dos nossos diversos graus de ensino. Mas uma coisa é certa: sobrava razão a Anísio Teixeira quando afirmava que o "nosso ensino médio é inteiramente órfão". De lá para cá, ou seja, da década de 50 até os nossos dias não há como escolher este ou aquele educador que se tenha debruçado com ênfase sobre o nível intermediário. Ao contrário, seria mais fácil dar o título de "inimigo" a uma ou outra autoridade que só fez complicar o andamento dessa etapa de ensino. Enquanto tivemos a divisão entre clássico e científico, até que havia uma certa unidade no ensino médio. Os alunos, de acordo com a sua escolha, ligada à vocação, preferiam os cursos que conduziam às ciências humanas (Direito, Pedagogia, Letras) ou ao desenvolvimento científico e tecnológico (Engenharia, Medicina, Ciências Biológicas). Com o nascimento em parto artificial do 2º grau, a pretexto de se valorizar a educação profissionalizante (Lei nO 5.692/71), implantou-se uma "bagunça homérica" no sistema escolar, sob a batuta de um MEC totalmente atordoado. Alguns têm dificuldade de explicar a diferença entre os técnicos e os tecnólogos. Outros sabem que estes últimos são formados em nível superior, em cursos de curta duração (hoje, uma grande atração para os jovens sem paciência de freqüentar cursos mais longos). Mas, robusteceu-se a dúvida: os técnicos são formados em três anos, junto com o ensino médio, ou dependem de um ano adicional? O que verdadeiramente se passa com os egressos dos Cefets? Eles viraram um misto de ensino médio e superior? A sociedade brasileira ainda tem o ranço da Constituinte de 37 (Estado Novo). Getúlio Vargas assinou um artigo afirmando que "o ensino técnico-profissional seria destinado às classes menos favorecidas". Nada melhor para justificar a discriminação, de que não nos livramos até hoje. Cresce a nossa industrialização e o setor de serviços tem o reforço da computação quase desenfreada. Como criar os recursos humanos adequados para enfrentar esses novos tempos? É claro que ninguém é contra o progresso, mas há uma imensa falha quando a escola deve responder às necessidades de oferecer pessoas de competência no nível intermediário. No mundo desenvolvido, esse tipo de problema não existe. Há uma boa oferta de empregos no nível pré-universitário, como vimos na Coréia do Sul e no Estado de Israel. De todos os que freqüentam o ensino médio apenas 1/3 sobe ao nível superior, ficando os demais 2/3 amparados por boas e bem pagas oportunidades. Aqui é que se inventou a teoria de que sem o diploma de nível superior o indivíduo não é ninguém. Prefere-se o formado, mesmo que sem emprego. É preciso promover uma profunda reforma no ensino médio, colocar ordem na sua seriação e na formação dos seus especialistas. Estes conectados ao processo de desenvolvimento econômico e social do País, para que haja maior proveito desse grande investimento que, bem ou mal, está sendo pago pela sociedade brasileira.
Jornal do Commercio (Rio de Janeiro) 16/10/2005