Eu tinha escrito que “o reconhecimento do cinema brasileiro fazia um bem danado a todos nós” e isso não era verdade. Para isso faltava-nos um critério, alguma coisa que nos dissesse que não é bem isso que as pessoas precisam ouvir. Todas as lógicas possíveis a serviço do que queremos dizer e os outros parecem precisar ouvir.
Os Rolling Stones, por iniciativa inteligente de Mick Jagger, publicaram um álbum de canções que vamos daqui a pouco sair tentando reproduzir. Não tem nada de mais, os Stones são um exemplo do que de melhor andamos compondo e gravando pelo mundo afora. O que é que tem de errado aplaudirmos as mais recentes, sobretudo se forem, como tudo indica, as de despedidas, as últimas.
O que diríamos se as canções fossem escritas por Chico Buarque e Milton Nascimento? Elas continuariam excelentes, com a vantagem de estarmos dando força a quem precisa e merece.
Votei em Lula e votaria de novo, se viesse a ser o caso. Não pretendo deixar nunca que o país caia nos braços de quem não o ama e muito menos esteja a fim de impedi-lo de se tornar dono de seu nariz, com independência para se manifestar diante do mundo. Detesto as guerras que estão fazendo por aí, não importa quem defende o quê, de que lado estão aqueles cujas ideias me parecem mais corretas. Com as nossas. Agiu com barbárie, já não merece nossa aprovação.
Hoje os filmes brasileiros estão fazendo fila para entrar nas portas das salas cinema, nada nos garante que eles serão exibidos para seu público, o mesmo público que antes fazia deles um sucesso capaz de se impor no mercado por seu gosto sincero, traduzido em rendas recordes. E não é porque os filmes não passam mais nas salas lotadas, como nesse passado recente, que devemos abrir mão daquele projeto de futuro.
No início dos anos 1970 nos tornamos uma cultura nacional bem-sucedida, porque conquistamos o gosto do público (o mais importante), além da confiança do governo Geisel graças a seu ministro do Planejamento e da Secretaria de Cultura, então apenas funcionado no âmbito do Ministério da Educação.
Com o cineasta Roberto Farias à frente da Embrafilme, tornamos essa empresa do Estado a mais poderosa companhia cinematográfica de produção e distribuição da América Latina.
O resultado de nossos filmes nessa combinação de Embrafilme com mercado foi tão significativo que praticamente virou um fenômeno mundial exemplar a ser imitado, tendo provocado intensa reação em toda parte.
Quando, vítima de equívocos e maldades, o cinema brasileiro foi arrancado violentamente das salas pela violência articulada por Fernando Collor de Mello, lembro-me bem que os cineastas brasileiros se manifestaram tentando mostrar aos que então mandavam geral no país o que estava acontecendo. Lembro sobretudo do esforço que fazíamos para mostrar que aquilo correspondia a um momento, que mais cedo ou mais tarde seria desmoralizado e teria que ser encerrado.
É esse o mesmo momento que estamos vivendo hoje e o governo Lula terá o reconhecimento da nação se compreender esse particular de nossa produção cultural. Sobretudo audiovisual.