Volto a assunto que considero pessoal. Na semana passada, vindo de Belo Horizonte, cheguei ao aeroporto do Galeão e não acreditei. O pátio de estacionamento vazio, inúteis os vinte e tantos túneis de acesso aos aviões, alguns deles em aparente deteriorização. As sanfonas que se grudam ao corpo dos aparelhos me pareceram esclerosadas, até mesmo enferrujadas, revelando pouco ou nenhum uso.
Olhei pela janelinha para ver se havia algum avião no pedaço, no imenso lençol de concreto que serve aos dois terminais. Sim, havia um, da Vasp, no início do matagal, obviamente fora de serviço, em reparação ou sendo canibalizado.
Não esperava ver nenhum avião de linha internacional. Naquele horário, cerca de 11 horas, são raros os vôos que chegam do exterior ou para lá partem. Na parte da manhã e à noite, sempre há alguns, é bem verdade que poucos.
Para dar movimento maior ao Galeão, tiraram as linhas domésticas do Santos Dumont, que ficou apenas com a ponte aérea Rio-São Paulo. Com isso, esperava-se que o Galeão voltasse a ficar movimentado ou, pelo menos, menos ocioso.
Ledo e ivo engano! Em crônica recente, acho que chamei o Galeão de "aeroporto fantasma". É difícil imaginar que atrás dele exista uma cidade com quase dez milhões de habitantes, belezas naturais cantadas em todo o mundo, garotas de Ipanema e Cristo Redentor de braços abertos sobre a Guanabara. Pensando no mundão de gente que conheço por aqui, justo na cidade em que nasci e purgo meus pecados, tive vontade de repetir o poeta: "Onde estão todos eles? Estão todos deitados, estão todos dormindo, profundamente".
Não era o caso. Minutos depois, pegava um engarrafamento monstruoso na saída da Ilha antes de chegar à Linha Vermelha. Mas, antes de sair do avião, pensei naquela historinha dos tempos da ditadura: "O último a sair apague a luz do aeroporto".
Folha de São Paulo (São Paulo) 24/02/2005