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Onde estão os homens bons?

 

Quem conhece e já consultou os documentos interessantes da história do município, tem familiaridade com a terminologia de épocas passadas. Uma delas é a terminologia do funcionamento da Câmara Municipal, a mais antiga instituição da representação popular em nosso país. As Câmaras foram logo depois do descobrimento instituídas nas fundações que iriam sendo preparadas para o povo estar preparado, a fim de ter a quem recorrer quando seus interesses foram esquecidos ou fraudados.


Faziam parte da vereança das Câmaras Municipais os chamados homens bons, ou homens corretos ou homens patriotas, ou homens dotados de espírito cívico e de interesse pela comunidade da qual era membro, segundo a legislação da época. Com esse objetivo as Câmaras Municipais cumpriram seu dever, durante o longo período no curso do qual representaram o povo das aglomerações que se iam formando, à medida que crescia a população e se fazia obrigatório zelar pelos seus interesses.


Os homens bons estão totalmente esquecidos. A maioria dos jovens e maduros de idade de nossos dias ignoram quem foram eles, inclusive na Câmara Municipal onde eles atuaram com rigor, zelo, honradez e empenho de bem servir à comunidade. Reconheço que não é fácil aos vereadores de hoje, sujeitos, como acentuou um filósofo, a prisões que detém o político nas malhas das obrigações partidárias, na pressão do eleitorado e na conduta de quem deseja sempre se eleger.


Por vários fatores influírem no exercício da vereança, e na ambição de se manter entre os mandatários, temos outras espécies de representantes, mas não mais os homens bons do passado remoto. Eles seriam úteis ao povo, se ainda pertencessem à vereança, mas essa é outra história, hoje, como estamos presenciando com a presidência e suas seqüelas. Onde estão os homens bons? pergunto eu. Estão mortos e enterrados, e sua história totalmente ignorada dos contemporâneos. Esse um dos males de que sofre a representação.


 


Diário do Comércio (São Paulo) 13/01/2005

Diário do Comércio (São Paulo), 13/01/2005