Em matéria de desgostos, o ano não precisou esperar por este oitavo mês, já teve antes até demais. Mas não custa advertir que pode piorar, a se acreditar na superstição que foi trazida pelos portugueses. Como lá era o momento em que as caravelas iam ao mar, as namoradas dos navegadores, além de passarem sozinhas a lua de mel, corriam o risco de ficarem viúvas. Por isso, diziam: “Casar em agosto traz desgosto”. Em outros países, a crença não se restringiu aos casamentos e se baseia em coincidências históricas, como, por exemplo, a destruição por bombas atômicas das cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, com a morte de 200 mil pessoas. Houve outros infaustos acontecimentos internacionais, entre os quais a construção do Muro da Vergonha, em Berlim.
No Brasil, é considerável a lista de efemérides nesse período aziago (para não dizer azarento, que dá azar), principalmente para os políticos: suicídio de Getúlio Vargas em 1954, renúncia de Jânio em 61, morte de Juscelino Kubitscheck num acidente de carro em 76, derrame de Costa e Silva em 69, desastre de avião que matou Eduardo Campos em 2014. Mas a lembrança que pode atrapalhar o sono de pelo menos uma pessoa em Brasília ocorreu em 31 de agosto de 2016, quando o Senado aprovou o impeachment de Dilma Rousseff por 61 votos a favor e 20 contra. Hoje, se houver quorum, a Câmara deve analisar a denúncia contra Temer por corrupção passiva, um processo que pode levá-lo posteriormente ao mesmo destino de sua antecessora, a queda. Governistas e oposicionistas articulam suas estratégias. Os primeiros, que investiram tanto na campanha pela rejeição do pedido, distribuindo cargos e oferecendo emendas, se mostram confiantes na vitória, e preferem um desfecho mais rápido para encerrar logo a questão. Aos oposicionistas interessa retardar ao máximo o julgamento, pois isso aumentaria o desgaste do presidente, que estaria sujeito a novas notícias desagradáveis e ao crescimento da pressão popular. Às vésperas da sessão, um fato reforça essa tática. Pesquisa publicada anteontem revelou que 81% dos entrevistados são favoráveis à aceitação da denúncia e à abertura do processo no STF. Só 14% se manifestaram contra.
Outra informação do levantamento deve pesar na hora da votação nominal que certamente será transmitida pela televisão: é que 79% dos entrevistados disseram concordar com a afirmação de que o deputado que apoiar a rejeição da denúncia é “cúmplice da corrupção”. Se houver votação, o resultado dependerá do número de candidatos a assumir esse papel diante de seus eleitores.