Último domingo de setembro, faltando uma semana para as eleições municipais. Por acaso, passo pela praça da zona sul onde esforçado candidato a prefeito faz seu último comício-monstro, mobilizando toda a militância de seu partido, grande nacionalmente, mas cada vez menor aqui no Rio.
É um bom, excelente candidato, segundo voz geral, até mesmo de seus adversários. Mas não colou, por isso ou aquilo, vai mal nas pesquisas e sua tentativa tem alguma coisa de sacrifício, de garantir a legenda para os vereadores, que também não estão entre os mais cotados para a eleição.
Nada mais melancólico do que o disfarce da melancolia. O comício tem tudo o que deve ter, povo, bandeiras, faixas, santinhos, discursos, slogans, uma animação postiça e heróica. Houve tempo em que, com aqueles mesmas bandeiras, aqueles mesmos apelos, a multidão fervia e assustava as hostes contrárias.
Já me explicaram mil vezes e eu não entendi mil vezes o que houve com o partido aqui pelas nossas bandas. Presto pouca atenção à política e quase nenhuma aos altos e baixos municipais. Sei que o atual prefeito, César Maia, tem chances de se eleger no primeiro turno. Meteu-se até numa roupa de cosmonauta, dentro do seu estilo que está dando certo, pelo menos para ele.
Gosto e sou amigo pessoal do Conde, um grande sujeito, em todos os sentidos. O mesmo posso dizer de Nilo Batista, outro herói que entrou na briga por amor a seu partido e a seu líder de sempre, Leonel Brizola.
O caso de Bittar me parece o mais doloroso. Tem legenda boa, tem boa carreira pública. Vejo o seu comício e fico triste, embora não tenha qualquer interesse na eleição em si. Faço a mim mesmo a pergunta: por que isso acontece? No esporte, o importante não é vencer, mas competir. Na política, o que importa mesmo é vencer.
Antecipadamente, deixo meu afetuoso abraço aos que vão perder. Se pudesse, elegeria todos.
Folha de São Paulo (São Paulo) 30/09/2004