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O Wanderley vem aí

 

Estamos salvos. Pelo menos considero-me salvo. Peguei um congestionamento monstro perto do morro da Viúva e tive de aturar a Kombi de um candidato a vereador aqui no Rio. Uma dessas Kombis incrementadas, com alto-falantes dirigidos aos quatro pontos cardeais para melhor aproveitamento do som que ela produzia.


Tomei conhecimento de que o Wanderley (com w e y) vem aí. E, vindo, todos os nossos problemas serão resolvidos, creches, condução farta e grátis, postos de saúde em cada esquina, restaurantes populares em cada rua, emprego pleno e bem remunerado, áreas de lazer e diminuição da carga horária de trabalho para que a população tenha a oportunidade de se distrair e praticar esportes.


A cara do Wanderley, em enorme pôster colorido nas laterais da Kombi, pareceu-me honesta e bem-intencionada. Sua voz nem tanto, pois os alto-falantes estavam em petição de miséria. Com a voz arranhada, interrompida cada vez que a Kombi avançava meio metro na pista, fui informado de que o Wanderley já foi vereador em Barra do Piraí e agora tenta representar o "sofrido povo da Baixada Fluminense", segundo ele "abandonado pelas autoridades desde os tempos de Floriano".


Não tenho condições de concordar com o candidato ou de discordar dele, mas que diabo, por que logo o Floriano? Antes do Marechal de Ferro a Baixada era um paraíso?


Minha má vontade ia protestar, mas acabei me rendendo aos encantos do Wanderley. Uma de suas idéias era a de impedir propaganda eleitoral nas vias públicas. Nem som, nem cartazes, nem passeatas.


Quase saltei do carro e fui pedir informações sobre como votar nele. Sou eleitor da Lagoa, mas não custa me mudar para a Baixada Fluminense, onde terei pior paisagem, mas trânsito melhor.


 


Folha de São Paulo (São Paulo - SP) 09/09/2004

Folha de São Paulo (São Paulo - SP), 09/09/2004