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O vôo cego da Varig

 

Os veículos de comunicação usaram a palavra atropelou para qualificarem a ação do governo na venda da Varig. A acusação feita à ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, foi comprovada por documentos sobre os dias crepusculares da empresa, depois de uma trajetória brilhante pelos quatro continentes.


Essas acusações podem implicar a ministra como coadjuvante na venda da companhia brasileira de transporte aéreo e também sua secretária-executiva, Erenice Guerra, co-responsáveis pelos fatos qualificados pelo juiz da 17ª Vara Cível de São Paulo, José Paulo Magano, como ilícito penal.


O estado da companhia aérea era grave, tendo a receita sido superada pela despesa em múltiplos, o que a tiraria do ar, efetivamente, pois o seu ativo não daria conta das despesas que tinha assumido e que não podia resgatar.


É uma lástima que isso tenha acontecido com uma empresa tão bem organizada pelo saudoso Rubem Berta, que se identificou com ela durante toda a sua vida. Lembro-me da comemoração dos vinte cinco anos da Varig no trecho Porto Alegre-São Paulo, com vivas ao êxito da empresa internacional, com vantagens que prendiam o passageiro à organização, principalmente sua perfeita operabilidade.


A Varig foi um grande modelo entre as empresas brasileiras. Deixada à economia de mercado, administrada não se sabe bem por quem, desandou a perder receita e a endividar-se irreparavelmente perante o Estado, ficando insolvente, com uma receita que não permitia enfrentar a situação por ser-lhe inferior.


As soluções começaram aparecer e a ser repudiadas como incompatíveis com o ativo da empresa. Foram, assim, afastados todos os interessados até que surgiu um grupo brasileiro, já detentor de uma licença da Infraero para voar com passageiros, que apressou o atropelamento da Anac, resultando na transferência da licença, tornando-se, assim, detentor dos vôos nacionais e internacionais da Varig.


É uma história triste - a queda de uma grande empresa de transporte aéreo.


A Varig sempre foi uma empresa muito bem organizada, desde os tempos de seu fundador, e hoje se encontra em estado falimentar.


Diário do Comércio (SP) 10/6/2008