Sustento, há muito (meio século!), que o Brasil tem dois problemas fundamentais a resolver: a Amazônia e o Nordeste. Da solução dependem o seu desenvolvimento e, mais, sua integração, na consolidação da identidade nacional. Infelizmente, conhecidos e apregoados, não tiveram até hoje, por falta de competência e firmeza (para não dizer coragem), ou por inapetência (mal ainda maior) de um governo que se dispusesse a enfrentá-los e resolvê-los.
Da Amazônia, já falamos, ligeiramente, nesta coluna da ABL no JB. Hoje nos referiremos ao Nordeste.
Problema velho e revelho, não há quem não o tenha analisado. Mas as iniciativas de solução se perdem na aridez do sol e somem na exploração dos que vivem da miséria das populações da região.
Para resolvê-lo, lembro-me que, há meio século, ouvimos palestra do professor Lincoln Continentino, em Belo Horizonte (publicada depois no nº 3 da Revista da Escola de Engenharia, em 1962), indicando a transposição do Rio São Francisco como a solução que daria à região água e energia para integrar-se na vida nacional, propiciando às sofridas populações os meios de sobrevivência. E a perspectiva de se tornarem parte atuante do desenvolvimento nacional, não peso morto, dependente e deprimente, da caridade ou misericórdia dos irmãos do Sul e do Sudeste.
Depois disso, o tema, recorrentemente, continuou nos debates nacionais. Sempre, porém, o interesse nacional o ultrapassou, em benefício de outras questões mais próximas dos grandes eleitorados do Sudeste e do Sul: a estes, aparentemente, não interessaria a aplicação de investimentos maciços na solução do problema nordestino, se têm seus próprios problemas, que desejariam resolver prioritariamente.
O atual governo surgiu apregoando que realizaria a integração do Nordeste ao Brasil, como prioridade, com a transposição do São Francisco. E assim pareceu, de início, para alegria nossa.
Depois, surgiram questiúnculas locais (não me parecem mais do que isso), a dificultar a realização da obra. E até a alegação do impacto ambiental que causaria, como se a seca, na sua imensa e dolorosa gravidade, não fosse o mais sério impacto ambiental negativo que inviabilizaria o desenvolvimento (no exato sentido do termo, crescimento a serviço do homem) e a própria sobrevivência das populações.
Depois se alegou que o Rio São Francisco estava assoreado e que não se poderia prejudicar a vazão essencial a certas regiões em benefício de outras, desvestindo um santo para vestir outro.
Ora, que se revitalize (concomitantemente) o rio; que se assegure a vazão essencial a todas as regiões; que se convoque, se necessário, um braço do Tocantins; que se faça o que for preciso (não nos cabe analisar a solução técnica), se a vocação é para desenvolver e não para prejudicar o que já existe.
O que não se pode admitir é que questões menores paralisem a realização da exigência maior: a integração das populações nordestinas ao país em condições de lutar pela sobrevivência e desenvolvimento, unindo o Brasil.
Se há aspectos inconvenientes (aproveitamento por grupos econômicos, em vez das populações às quais se destina, por exemplo) que, conhecidos, sejam evitados ou combatidos e impedidos. Mas que não se retarde mais a salvação sonhada há tanto tempo.
O Sudeste e o Sul, e todas as outras regiões, agradecerão. A invasão dos expulsos da seca terá fim e o retorno maciço de populações inteiras das zonas periféricas das metrópoles contribuirá para a normalização da vida urbana, contentando os que retornam à terra natal em condições de sobreviver e progredir.
Enfim (não se pretende neste artigo enfrentar questões secundárias) tome-se a decisão fundamental e se realize, imediatamente.
Afinal, sabemos e sentimos todos: o Nordeste é Brasil!
Jornal do Brasil (Rio de Janeiro) 04/05/2005