Peço licença aos leitores para ter a coragem de discordar de Albert Einstein, o genial criador da teoria da relatividade. Ele dizia que “é na crise que aflora o melhor de cada um.” Nem sempre, caro mestre, nem sempre.
Veja-se o que acontece hoje em algumas universidades brasileiras, depois da realização dos vestibulares. À angústia dos exames, nem sempre bem sucedidos, sobrevém o relaxamento do êxito, o que é perfeitamente compreensível. O que não se admite, em sociedades civilizadas, é a forma de comemoração da vitória nos vestibulares. A violência tornou-se companheira de trotes inconcebíveis, o que, aliás, não é coisa dos tempos presentes. Isso vem de longe.
Há 10 anos, na USP, afogaram um estudante de Medicina. Ele morreu, cortou na raiz uma carreira possivelmente promissora, para tristeza dos seus pais, que até hoje não tiveram o consolo de ver a justiça condenar os culpados. É a maldição dos trotes desarrazoados.
Este ano, a moçada caprichou. Em centros ditos civilizados, sem qualquer reação das autoridades, inclusive universitárias, além do inocente corte de cabelo com máquina zero (homenagem aos estudantes calouros de Medicina), houve de tudo. Ou quase tudo. Por que a agressão a mulheres grávidas? Nossos jovens querem rivalizar com os nefandos skinheads europeus que aprontam à vontade? Lá, como cá, com a desídia da polícia, que é paga para proteger os cidadãos.
Outros veteranos não foram nem originais: pegaram um rapaz que nunca bebeu e encheram o pobre coitado de cachaça, fazendo-o perder os sentidos. Isso se repetiu em lugares distintos, como se uma loucura coletiva tivesse tomado conta dos universitários, que constituem (ou irão constituir) a elite intelectual do país. Isso é orquestrado sob a liderança de recalcados que, em vez de receber os novos colegas de forma suave e solidária, agridem rapazes e moças de forma indesculpável.
Estamos inteiramente de acordo com o Ministério Público, que condenou tais atitudes de barbárie. Tem razão quando cobra das autoridades universitárias uma atitude, dentro ou fora do campus, pois isso ultrapassou os limites do bom senso ou da graça sem graça. Há 50 anos, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, que se chamava UEG (Universidade do Estado da Guanabara), as lideranças estudantis, na área de Educação, comemoravam a entrada dos colegas com um simpático “diploma de burro”.
Todos riam, ninguém se achava burro, mas a integridade física era plenamente respeitada. Não é como hoje, em que se agride, em cursos de Pedagogia, moças grávidas e é usual queimar as costas dos calouros, como se eles tivessem cometido algum crime de lesa-pátria.
Demos uma olhada no Dicionário Escolar da Academia Brasileira de Letras. Lá está: “Trote – andamento das cavalgaduras ou troça que os veteranos das escolas fazem com os calouros.” Não dá para entender porque alguns universitários preferem a primeira versão. Será que é um problema de identificação?
17/02/2009