Uma das forças contra a qual ninguém pode lutar, que cai vencido, é o tempo. Aprendi nesta altura da vida, que essa é a realidade com que nos defrontamos diariamente, sem podermos impedir a implacável marcha dos segundos, dos minutos e das horas, dos dias, das semanas e dos meses, dos anos e dos séculos, um dos quais acaba de findar, nessa marcha inexorável das mudanças que não se obstam, por impossível.
Dentre os sermões dos grande jesuíta padre Antônio Vieira, um de que mais gosto, que mais admiro, que, de tempos em tempos, volto a reler, é o que foi pregado na primeira dominga do Advento, tendo como exórdio as palavras de Cristo: “Passará o céu e a terra e as minhas palavras não passarão”. Acentuou o grande pregador, um dos maiores que a Igreja teve, que tudo passa, quer queiramos ou não, tudo se esvai, na terrível ampulheta do tempo.
Para o padre Vieira passaram e passam e passarão os reinos, os impérios, os governos, os guerreiros, os sábios, os criadores de beleza, os inventores, os grandes deste mundo, e nada fica, senão um nome na História, e, assim mesmo, um nome de muito poucos, pois a maioria cai no esquecimento, sem ter quem a levante ou lhe restitua um pouco de sua passagem pela Terra. Isto, ainda mesmo que tenha escrito e deixado obras.
Tudo passa. Nada fica, neste mundo, senão um túmulo, ou uma cova, ou um depósito de restos mortais, cremados. É a grande advertência do padre Vieira, que devemos ter, sempre, na lembrança, pois quem não viver como aconselhou o Cristo e como aconselha a Igreja, também passará, deixando, apenas, um rastro de maldade que o tempo apagará, mas os pósteros, um dia, poderão reviver na lembrança, dando-o como exemplo de infidelidade ao mandato que trouxe Nosso Senhor à Terra.
Diário do Comércio – São Paulo – SP, 28/10/00