Ela bombou como fenômeno nas redes sociais, foi parar na coluna do Ancelmo e inspirou a crônica-exaltação de Joaquim Ferreira dos Santos anteontem. Estou me referindo, claro, à bunda de Paolla Oliveira, a atriz da série “Felizes para sempre?”. Como se explica a predileção por ela num país em que, por ser a preferência nacional, esse bem apresenta excesso de oferta, digamos assim? Nenhuma restrição, ao contrário, mas por que a dela? As praias nunca estiveram tão cheias de corpos quase nus estendidos de barriga pra baixo revelando-as sob várias formas: melancia, abóbora, melão, maçã, pera. Isso sem contar as musas carnavalescas que já estão se exibindo nos ensaios. Bunda numa hora dessas, com tanta crise estourando? Vai ver que por isso mesmo, por escapismo, para fugir de coisas ruins como a eleição da Câmara e do Senado. Ou de mais um escândalo da Petrobras. Ou de mais uma bala perdida. O que vale mais a pena admirar, o bumbum da Paolla ou a cara dos novos presidentes do Congresso?
Como deve haver mais explicações, fui perguntar a quem entende do assunto, Ziraldo, que já lançou uma revista chamada “Bundas” e, como artista plástico, organizou recentemente uma exposição de 16 grandes telas de personagens famosas e anônimas, com vários exemplares da parte do corpo feminino em que ele se considera especialista. “Sempre fui apaixonado por mulheres bonitas e por suas bundas”. Um documentarista americano até veio ao Brasil especialmente para entrevistá-lo sobre esse nosso objeto de desejo e “produto de exportação e glória brasileira”. Como ele diz com divertido orgulho, “sou um pioneiro, eu sabia que a bunda prevaleceria”.
Mas afinal que mistério tem o bumbum da Paolla? Talvez seja porque se trata de uma bunda com identidade e grife. Desconhecida, não teria chamado tanta atenção. Joaquim deu-lhe transcendência e acha que ela adquiriu, por causa do momento político, uma dimensão emblemática: “Ela promete simbolizar pelo avesso de sua estupefaciente rigidez muscular, o Brasil da delação premiada”. Já o humorista acredita que o segredo do fenômeno Paolla está no conjunto da obra: “A beleza do rosto, o sorriso, a empatia, tudo isso ajuda muito a valorizar a sua bunda”.
É possível. Na novela “Amor à vida”, fiquei impressionado quando vi pela primeira vez o rosto de Paolla. Na contramão da moda de lábios tipo Angelina Jolie, sensuais e volumosos, ela apresentava uma das bocas mais delicadas e bem desenhadas do panorama atual, com um sorriso apenas esboçado que lembrava, guardadas as devidas distâncias, o de Mona Lisa. Não entendia por que não se falava disso. Agora sei. Intimamente, ela devia dizer: “Vocês não viram nada, aguardem meu lado B”.