Uma das angústias do jornalismo é a inevitabilidade das generalizações. Impossível deixar de cometê-las num texto curto, apressado e genérico como são as crônicas publicadas neste espaço.
Vai daí que, diante dos escândalos recentemente anunciados, proclamados e alguns deles já confirmados, ganha mais destaque a banda podre, fala-se mais no joio do que no trigo. É o que está acontecendo com a mídia em geral e comigo em particular.
Venho publicando crônicas pesadas contra o PT e contra o governo -e delas não me arrependo. A menos que os fatos desmintam a corrupção que se instalou no partido e no poder, pretendo continuar na mesma linha -e acredito que a imprensa vá fazer o mesmo. Mas, por elementar justiça, sinto-me obrigado a expressar admiração, carinho e respeito para com vários petistas de carteirinha, que estão pegando as sobras da tumultuada crise política que se instalou no cenário nacional.
Não admiro o partido. Há muito detectei nele um ranço totalitário. Duas crônicas publicadas na semana passada chegaram a lembrar alguma analogia (nunca a identidade) com o partido nazista. Mas, a começar pelo presidente Lula, há no PT algumas das melhores expressões da vida púbica nacional de todos os tempos.
Não tenho espaço nem vontade para citar nomes, mas gostaria de salientar algumas atitudes, como as dos senadores Eduardo Suplicy e Aloizio Mercadante, a do jornalista Ricardo Kotscho e a de milhares de petistas, que são os primeiros a sofrer na própria carne a onda que se formou contra o partido.
A generalização é inevitável, como já disse, mas é injusta. Somente o tempo será capaz de dar o seu a cada dono. Torço para que a banda podre seja menor do que se anuncia. E que o PT, sem a minha simpatia e sem o meu voto, continue a ser um patrimônio político do povo brasileiro.
Folha de São Paulo (São Paulo) 06/07/2005