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O sacerdote e o filho

 

Durante muitos anos, um sacerdote brâmane cuidava de uma capela; quando precisou viajar, pediu a seu filho que se encarregasse das tarefas diárias até o seu retorno. Entre essas tarefas, o menino devia colocar a oferenda de alimento diante da Divindade, e observar se Ela comia.


O garoto dirigiu-se, animado, até o templo onde o pai trabalhava. Colocou o alimento, e ficou aguardando as reações.


O resto do dia ficou ali. E a estátua permaneceu imóvel. O menino, fiel às instruções de seu pai, estava certo de que a Divindade desceria do altar para receber sua oferenda.


Depois de muita espera, ele suplicou:


- Oh Senhor, vinde e comei! Já é muito tarde já não posso esperar mais. Nada aconteceu. Ele então começou a gritar:


- Senhor, meu pai me pediu que eu estivesse aqui quando o Senhor descesse, para aceitar a oferta. Por que não o fazeis? Só comeis a oferenda das mãos de meu pai? O que eu fiz de errado?


E chorou muito. Quando ergueu os olhos e limpou as lágrimas, levou um susto: ali estava a Divindade, alimentando-se com que lhe tinha sido oferecido.


Alegre, o menino voltou correndo para casa. Qual foi sua surpresa quando um de seus parentes lhe disse:


- O serviço terminou. Onde está a comida?


- Mas o Senhor a comeu - respondeu surpreso, o menino.


Todos ficaram assombrados:


- O que estás dizendo? Repete, pois não ouvimos bem.


O menino repetiu:


- O Senhor comeu tudo que lhe ofereci.


- Não é possível! - disse um tio. - Seu pai lhe disse só para observar se ela comia. Todos nós sabemos que este é um ato meramente simbólico. Você deve ter roubado a comida.


O menino, porém, não mudou sua história, mesmo quando o ameaçaram com uma surra.


Desconfiados, os familiares foram até o templo, e encontraram a Divindade sentada, sorrindo.


- Um pescador lançou ao rio a sua rede e conseguiu uma boa pesca - disse a Divindade. - Alguns peixes estavam imóveis, sem fazer nenhum esforço para saírem. Outros lutavam desesperadamente, saltando, mas sem conseguir escapar. Só uns poucos eram afortunados em sua luta e conseguiam escapar.




 "Assim como os peixes, três tipos de homens vieram aqui para me trazer oferendas: uns não quiseram conversar comigo, achando que eu não ia responder. Outros tentaram, mas desistiram logo - com medo da decepção. Entretanto, este menino foi até o fim, e Eu, que jogo com a paciência e a perseverança dos homens, terminei por aceitar o que trazia."


A Gazeta (MT),6/9/2010