Quando a gente vê em filmes antigos (ou não tão tão antigos assim) os primeiros telefones celulares, aqueles gigantescos trambolhos, nos damos conta de que o mundo muitas vezes envereda por caminhos inesperados. Hoje o celular é pequeno, é prático – e todo mundo tem . O número de aparelhos no Brasil já chega a 160 milhões, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). De cada cem brasileiros, 82 usam o aparelho. Como ocorre na maioria dos países.
O que tem gerado preocupações. Afinal, os celulares emitem ondas de rádio, e são usados junto à cabeça. Não poderia isso fazer mal? Muitos estudos foram realizados a respeito, alguns com resultados alarmantes; assim, em 2005, o governo inglês recomendou que crianças menores de oito anos não usassem o aparelho, por causa dos riscos. Mas as pesquisas realizadas desde então são, em sua maioria, tranquilizadoras.
Assim, em 2007 um documento publicado por uma comissão europeia concluiu que não se demonstrou efeitos nocivos do celular quando usados de forma normal: por exemplo, não causam tontura ou dor de cabeça. Mas, acerca de certos tipos de tumor (por exemplo, o neuroma acústico, que é uma neoplasia benigna), o debate ainda prosseguiu. O temor maior diz respeito a tumores cerebrais e neste sentido um enorme estudo, divulgado na semana passada, é motivo de alívio.
Trata-se de uma pesquisa realizada nos países escandinavos (Suécia, Noruega, Finlândia, Dinamarca), ao longo de quase 30 anos. Mostra que a incidência de tumores cerebrais neste período não cresceu de forma significativa. Cautelosos, os pesquisadores, pessoas sérias, dizem que talvez se devesse esperar ainda mais tempo para dizer que não há conexão entre celular e tumores cerebrais. Ou pode ser que só alguns pequenos grupos de pessoas correm o risco.
Mas há um outro risco, este sim muito real. Trata-se de pessoas que usam o celular em momentos em que não deveriam fazê-lo. Não é só o mal-educado que, no cinema, mantém uma conversação telefônica em altos brados (coisa que, felizmente, está ficando rara). É aquela pessoa que dirige falando ao celular.
Neste sentido, um estudo (também recente) serve de advertência. Mostra que a performance das pessoas é muito afetada pelo uso do celular, em parte por causa do desvio da atenção, mas em parte por causa do efeito sobre o próprio funcionamento cerebral. E isto sim pode ter efeitos catastróficos: o risco de acidente aumenta em 400%, segundo um estudo australiano. Portanto, se vai dirigir, não beba – e desligue o celular.
Zero Hora (RS), 12/12/2009