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O que sobra para os jornais

 

O ombudsman da Folha de São Paulo, Marcelo Beraba, acentuou, há pouco, o distanciamento entre a mídia impressa e as outras mídias. O exemplo que deu, e que outros mestres da comunicação estão dando, é a velocidade da notícia que o mercado exige cada vez mais instantânea. Tomando como exemplo mais recente a morte do papa, os jornais só a noticiaram no dia seguinte, na base de "O papa morreu", com a variante "Morre João Paulo 2º".

Desde a véspera, sites da internet e emissoras de rádio e de TV haviam dado a notícia, com os desdobramentos imediatos e as primeiras especulações.


Não faz muito, um avião da ponte aérea caiu nas imediações de Congonhas. Cinco minutos após, havia equipes de rádio no local, mais dez minutos, todas as equipes de TV colocavam na telinha os pormenores do desastre. Quase 24 horas depois é que os jornais publicaram a notícia.


O que está dito acima não é novidade. De diferentes modos, e por gente mais capaz, todos já fizeram constatação tão óbvia e explicável. Óbvia também tem sido a solução apontada para diminuir o fosso entre a mídia impressa e as demais: a opinião. Acontece que o rádio, a TV e quase cem por cento da internet estão fazendo a mesma coisa, com bons comentaristas, a maioria deles originários da mídia impressa. Outros, como o pessoal da internet, dando opiniões e fazendo considerações sem qualquer compromisso com os manuais de redação ou qualquer grupo político ou empresarial.


O que sobrará para os jornais? Também já foi dito: a qualidade do texto. E qualidade aqui não se trata de qualidade literária ou erudita, cujo leito natural é o livro. Há confusão a esse respeito. Literatura em jornal faz mal à literatura e ao jornal. A qualidade exigida é a do charme, do inesperado, do realmente novo -qualidades, por sinal, que me faltam, indicando que é hora, como disse João Paulo 2º em seu testamento, de "ir".


 


 


Folha de São Paulo (São Paulo) 26/04/2005

Folha de São Paulo (São Paulo), 26/04/2005