O constrangimento maior nessa história do currículo de Carlos Decotelli, que deixou o governo ontem antes de tomar posse, acabou ficando por conta de Bolsonaro porque, ao fazer o anúncio oficial do novo ministro, coube a ele a primazia de endossar como verdadeiros os dois títulos falsos de Decotelli, que não era nem “doutor pela Universidade de Rosário, na Argentina”, e, portanto, nem “pós-doutor pela Universidade de Wüppertal, na Alemanha”. O plágio foi descoberto depois.
A mentira, como se sabe, tem pernas curtas. No dia seguinte, o reitor argentino Franco Bartolacci foi o primeiro a desmentir as inconsistências do currículo: “A tese dele foi avaliada negativamente. Ele não concluiu o doutorado”.
Esta semana foi a vez de a universidade alemã informar ao GLOBO que não concedeu qualquer título a Decotelli, muito menos o de pós-doutor. O que ele fez, segundo o desmentido, foi realizar uma pesquisa de três meses naquela universidade. O que Bolsonaro precisa explicar é como ele, que se orgulha de ter “um sistema de informação particular que funciona”, como já declarou, não conseguiu realizar a simples operação de checar currículos.
Esse ministério parece carregar uma maldição. Depois de dois meses e meio de gestão, acreditava-se que não podia haver solução pior do que Ricardo Vélez. Podia. O incrível Abraham Weintraub e seu inacreditável festival de besteiras, como a crença de que a Terra é plana, sem falar no imprecionante atentado ao idioma, nos fizeram sentir saudades do seu antecessor. E olha que Vélez colecionou uma série de polêmicas, como as declarações de que “o brasileiro viajando é um canibal: rouba coisas dos hotéis, rouba o assento salva-vidas do avião” (depois, ele alegou que as declarações foram tiradas do contexto).
Decididamente, há uma disputa para ver o que é mais desprezado pelo governo Bolsonaro — se a saúde ou a educação.
Como fui esquecer a cultura e o meio ambiente!