Com muito prazer, fui convidado pela diretoria da Gol Mobile para participar do 12º Festival Literário de Paraty, a famosa Flip. Tinha por obrigação falar na Casa Libre (Liga Brasileira de Editores) sobre educação e cultura, para uma plateia entusiasmada.
De improviso, como convinha, critiquei as metas quantitativas do Plano Nacional de Educação (2011-2020), demonstrando, como em ocasiões anteriores, que os números propostos não foram alcançados, dentro da melhor tradição brasileira. O exemplo significativo disso é a quantidade de adultos analfabetos, hoje ainda em torno de 14 milhões de pessoas acima dos 15 anos de idade.
Seria muito mais conveniente que escolhêssemos metas qualitativas para problemas que se estendem no tempo, como a falta de creches, a pouca atenção dada à educação infantil, a formação de professores e especialistas, a estrutura falha do ensino médio, a precariedade da educação profissional, o baixo número de universitários (estamos com 7 milhões, quando deveríamos ter ultrapassado os 10 milhões) etc.
É claro que nem tudo é criticável na educação brasileira. Temos algumas razões de orgulho, como a performance da pós-graduação, a existência de 60 milhões de estudantes registrados, a universalização do ensino fundamental e, para não ir muito longe, o crescimento exponencial do ensino a distância (EAD), em que hoje estamos com mais de 1 milhão de estudantes. Pode-se elogiar também o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec).
Outro tema abordado na Flip foi a cobertura dada, do ponto de vista de recursos financeiros, à área da educação. Em alguns anos devemos atingir os 10% do PIB, enquanto a cultura, sua irmã siamesa, vive à míngua, sem poder investir o que seria necessário. Querem um exemplo? O setor de patrimônio artístico e cultural tem milhares de casas e igrejas para restaurar, em todo o país, mas os seus dirigentes choram a ausência de meios. Até quando?
A separação de educação e cultura, que andaram juntas muitos anos, foi uma decisão lamentável, como se vê na prática. Posso exemplificar com o quadriênio em que dirigi a Secretaria de Estado de Educação e Cultura do Rio de Janeiro (1979-1983), quando foi possível socorrer a cultura de forma acentuada, levando-se em conta que a SEEC dispunha de 25% do orçamento estadual, como é dispositivo constitucional.
E a cultura vive de pires na mão, dependendo da boa vontade das autoridades, o que nem sempre acontece (ou quase nunca). Assim, foi possível reformar a Escola de Teatro Martins Pena e o Instituto Villa-Lobos, que estavam em petição de miséria. Não se conhece a vantagem dessa triste separação.
Estando presente ao debate o publicitário Roberto Bahiense, diretor da Nuvem de Livros, foi possível ao público tomar conhecimento dos extraordinários avanços dessa iniciativa em território brasileiro (está indo também para a Espanha). Com a colaboração da operadora Vivo, hoje são oferecidos a quase 1,5 milhão de brasileiros os serviços da Nuvem de Livros. Basicamente, essa importante porta de entrada para o fascinante mundo do conhecimento oferece aos seus assinantes, por módica quantia, 40 mil livros, de excelentes editoras, que podem ser acessados livremente, por intermédio da senha adquirida. Um sucesso!
Mas ainda estamos diante da triste realidade de que 15 milhões de estudantes brasileiros não dispõem, em suas escolas, de uma simples biblioteca. Sinal de pouco caso, por parte das autoridades responsáveis, que parecem se contentar com uma educação de segunda classe.