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O que 2019 nos reserva

 

Segundo a nossa tradição carnavalesca de que o ano começa de fato na Quarta-Feira de Cinzas, 2019 estaria começando hoje, embora às vezes ele dê a impressão de ser um ano que terminou antes de ter começado.

A astrologia diz que ele será regido por Marte, o que causa apreensão. Se Júpiter, com todo o otimismo que o cerca, como senhor da abundância e da prosperidade, fez de 2018 um ano em que a violência bateu recordes, o que esperar do belicoso “deus da guerra”?

Há exemplos recentes assustadores, como o rapaz estrangulado por um segurança num supermercado, e a imagem do rosto desfigurado de uma mulher pelos socos desferidos durante quatro horas por um play-boy covarde.

Por outro lado, temos um governo ambivalente —ou bipolar. O presidente é contra a tirania de Maduro, mas exalta Stroessner, e no seu altar de admirações figuram generais da ditadura militar e um torturador, que é seu herói. Demite um ministro que se indispôs com o filho, e diz que “nenhum filho meu manda no governo, não há nada disso”.

Os ministros, por sua vez, oscilam entre dizer e desdizer. O da Educação mandou que os alunos cantassem o Hino Nacional e repetissem o slogan da campanha de Bolsonaro, que foi, aliás, quem exigiu a retratação: “Peça desculpas e desfaça”. Até Moro, quem diria, obedeceu à ordem presidencial de desnomear em nome da intolerância.

Há muitas incertezas em relação a 2019, mas o que talvez seja o único consenso é a necessidade da reforma da Previdência. Especialistas à direita e à esquerda dizem que, sem ela — ou com ela descaracterizada — não sairemos do lugar.

Por isso, a novidade desconcertante é a disposição presidencial de fazer concessões antes da hora, como a redução do limite de idade da aposentadoria das mulheres de 62 para 60 anos. Não é a melhor maneira de negociar, acredita a equipe econômica, preocupada com a facilidade com que o presidente aceita mudanças dos parlamentares na sua proposta: “A reforma boa é a de vocês”.

Paulo Guedes dirá que a reforma boa é a que trará aos cofres públicos uma economia de R$ 1 trilhão em uma década.

O Globo, 06/03/2019